I. Introdução
A. O desconstrucionismo é um movimento pós-moderno poderoso, actualmente
em voga nas universidades de maior expressão académica e junto da elite
intelectual, e a sua influência permeia todas as áreas da nossa cultura.
Este movimento deu origem ao tribalismo, ao politicamente correcto, à
reconstrução da imagem, ao multiculturalismo e à guerra cultural, e
tornou-se num martelo com o qual destruir os valores tradicionais.
B. O Pano de Fundo do Desconstrucionismo. De forma a que se possa
entender o contexto do Desconstrucionismo, é importante seguir o
desenvolvimento do pensamento intelectual da cultura Ocidental. É
importante entender dois termos: o modernismo e o pós-modernismo. Ambos
são termos com um entendimento bem amplo.
1. Definição do Modernismo:
O Modernismo é outra palavra para o humanismo iluminista. O pensador
evangélico Thomas Oden afirma que este período teve início com a queda
da Bastilha em 1789 (Revolução Francesa), e terminou com o colapso do
comunismo e a queda do muro de Berlim em 1989.
Este foi um período que
afirmou a existência e a possibilidade de conhecer a verdade com base
apenas na razão humana. E devido a isto, e num acto simbólico, a deusa
Razão foi instalada na Catedral de Notre Dame, na França; a Razão
tomou o lugar de Deus; o naturalismo substituiu o sobrenatural. O
Modernismo afirmou a descoberta científica, a autonomia humana, o
progresso linear, a verdade absoluta (ou a possibilidade de a
conhecer), o planeamento racional da ordem social (isto é, socialismo).
Este movimento começou com grande optimismo.
2. Definição do Pós-Modernismo:
O Pós-modernismo é, de certa forma, uma reacção contra o Modernismo que
tem estado em preparação desde o final do século 19.
Dentro do
pós-modernismo o intelecto é substituído pela vontade, a razão pelas
emoções, e a moralidade pelo relativismo. A realidade nada mais é que
uma construção social; a verdade é igual ao poder. A tua identidade vem
dum grupo.
O Pós-modernismo caracteriza-se pela fragmentação, indeterminação, e
aversão às estruturas de poder universalizantes. É uma visão do
mundo que rejeita todas as visões do mundo ("histórias"). De modo
resumido, o Pós-modernismo defende que não existe verdades universais
válidas para todas as pessoas. Em vez disso, os indivíduos encontram-se
presos à perspectiva limitada da sua raça, sexo, ou grupo étnico. Isto
é algo proveniente de Nietzsche em toda a sua força.
II. Definindo o Desconstrucionismo
(Nota: Os desconstrucionistas resistem a todas as tentativas de
definição classificando-as de "tirânicas", mas eles são inconsistentes
visto que os seus livros nada mais são que definições extensas dos seus
métodos. De facto, pode-se acusar os desconstrucionistas de só definirem
as coisas!)
A. O Desconstrucionismo é uma forma de ler um texto, originalmente um
método de crítica literária e só aplicada a textos literários. No
entanto, hoje os desconstrucionistas dizem que toda a existência é um
livro a ser interpretado, quer em forma de poema, história, valores
familiares, governos, religião, ciência, escada corporativa ou
arquitectura. O ênfase desta foram de leitura nunca é para aprender o
significado intencionado pelo autor, mas sim a interpretação subjectiva
do leitor.
B. “Os
desconstrucionistas alegam que toda a escrita é reduzível a uma
sequência arbitrária de sinais linguísticos ou palavras cujos
significados não têm qualquer relação com a intenção do autor ou com o
mundo fora do texto.” NEWSWEEK, 6/22/81
C. “A abordagem desconstrutiva
a um "texto" - que tanto pode ser uma série de televisão ou um sinal
rodoviário tão facilmente como pode ser um poema épico - é a de o
desmantelar, tomando especial atenção às suas pressuposições elitistas,
anti-feministas e pouco chiques. O projecto é informado pela filosofia
segundo a qual o mundo se encontra indefinido até que alguém -
temporariamente e só segundo um estilo - o torna definido ao usar
palavras para o descrever. Uma vez que (alegadamente) as palavras estão
sempre a alterar de significado, nenhuma interpretação dessas palavras
é mais correcta que qualquer outra. A função do criticismo é, portanto,
expor a sua contradição inerente na própria ideia do "significado" ou
veracidade dum texto.” THE ECONOMIST, 5/18/91, p.
95.
III. As Origens do Desconstrucionismo - As Suas Raízes Filosóficas
As origens do Desconstrucionismo remontam a alguns intelectuais
franceses depois da 2ª Grande Guerra. O mais notável proponente e pai
do movimento foi Jacques Derrida.
O Desconstrucionismo era originalmente uma forma de crítica literária
(como já mencionado previamente) mas rapidamente começou a ter outras
aplicações.
Ela emergiu do meio filosófico que incluía, antes de tudo,
o existencialismo, (...), o Romantismo, a
filosofia de Kant, a psicanálise de Freud, o fascismo (eles gostariam
de negar isto), a fenomenologia e o pragmatismo.
IV. Os Principais Pilares do Desconstrucionismo
A. A natureza da realidade: A realidade objectiva não pode
ser conhecida. O transcendental não existe. O universo é um sistema
fechado. A realidade é inteiramente subjectiva. Os grupos e a sua
linguagem criam a sua própria realidade até que ela é substituída por
um grupo mas poderoso. (Vemos aqui a influência de Kant, isto é, o
fenómeno da vida nunca pode ser conhecido tal como ele é, mas é sempre
interpretado segundo as categorias inatas do conhecedor.)
B. A possibilidade de conhecimento: Os desconstrucionistas são
cépticos. Todo o conhecimento que temos não é directo mas indirecto. O
mundo chega até nós através da linguagem e só através da linguagem, que
por sua vez é uma construção social. Uma declaração é verdadeira se ela
dá poder a um indivíduo ou a um grupo. Aqui nota-se a influência do
pragmatismo.
C. A natureza do homem: A identidade individual é um mito. O
homem só adquire a sua identidade através do seu grupo ou da sua
cultura. Quando o indivíduo está descontente, ele tem o direito de
criar o seu próprio significado. Neste ponto, os desconstrucionistas
diferem dos existencialistas anteriores onde o individual é supremo. Os
desconstrucionistas são semelhantes aos fascistas, neste ponto.
D. Tomada de Decisões Morais: Os desconstrucionistas ficam
profundamente ofendidos com aquilo que eles chamam de "totalização".
Com este termo, eles referem-se aos valores universais que são
verdadeiros para todas as culturas e para todas as eras. Para os
desconstrucionistas, o "verdadeiro" é o que um grupo decide ser a
verdade para um dado momento. O verdadeiro emerge do poder adquirido.
Segundo os desconstrucionistas, só os mais fortes sobrevivem. Aqueles
que podem lidar com a ausência dum propósito e podem criar a sua
própria realidade contra todo o peso de toda a tradição Ocidental,
provam o seu direito de existir. As leis e as tradições sociais provam
o seu direito de existir. As leis e as convenções sociais nada mais são
que máscaras para o poder. Julgamentos de valor [moral] são exercícios
de poder.
E. A natureza da linguagem: A linguagem é um sistema construído
sobre os fundamentos de símbolos arbitrários. Isto é, os textos são uma
colecção de palavras e imagens ("significantes") que não têm qualquer
significado inerente ou conexão com o mundo objectivo ("significado”).
Uma vez que a linguagem é um meio de comunicação, e visto que os
construtores da linguagem são instáveis, a interpretação é também
incerta. Logo, o ênfase está sempre naquele que recebe a mensagem - isto
é, o leitor ou o interpretador. Mais ainda, uma vez que o significado
("significados") deriva do contexto social de cada um, o significado
fundamental nasce do contexto social de cada um. A língua só pode
transmitir preconceitos culturais.
V. O Método do Desconstrucionismo
A. Desconstruir um texto é semelhante a desmantelar uma casa para
ver quais foram os erros de construção que foram feitos. Quando um
leitor desconstrói um texto, ele está a examiná-lo em busca do
preconceito e da parcialidade que o autor pode ter usado com o propósito
de controlar os outros. Por exemplo, uma leitura desconstrucionista da
Declaração de Independência ressalvaria que a frase "todos os homens
foram criados iguais"
exclui as mulheres, e ao mesmo tempo que fala de
liberdade, o mesmo foi escrito por um homem branco dono de escravos. O
sexismo e a escravatura contradizem a retórica da liberdade.
Os
desconstrucionistas buscam por decepções ou más intenções que, de modo
consciente ou inconsciente (o elemento Freudiano), motivam um autor,
artista ou político particular. Note-se que o que está ausente
do texto (sexo ou grupo étnico) pode ser levado em elevado consideração
na interpretação desconstrucionista dum texto. Eles chamam a isso "a presença da ausência".
B. O crítico pós-modernista Thomas Oden ressalva:
O
desconstrucionimsmo . . está sempre a fazer as perguntas cépticas em
relação ao texto, perguntando que auto-decepções ou más intenções podem
de modo inconsciente motivar uma conceptualidade particular. (Thomas Oden. TWO WORLD: NOTES ON THE DEATH OF MODERNITY IN AMERICA AND RUSSIA, p.79.).
C. O objectivo do Desconstrucionismo, portanto, é o de descobrir
as contradições, mostrar as intenções ocultas e os significados
suprimidos que pertencem a um texto, quer seja uma obra literária ou
uma instituição social. Visto que o significado oficial é determinado
por aqueles que estão no "poder", os críticos pós-modernistas
"desconstroem" esses significados como forma de descobrirem o que é que
está oculto ou o que é que foi suprimido no texto, e, desde logo,
desacreditando o establishment que se encontra por trás do texto e obtendo o "direito" de derrubar a sua autoridade.
D. O propósito final de uma interpretação é construir um
significado que justifica a experiência pessoal ou a experiência desse
grupo. Por exemplo, um historiador revisionista poderá escrever a
história da descoberta do Novo Mundo por parte de Colombo de uma forma
que beneficiará aqueles que foram oprimidos pelos Europeus Brancos. Da
mesma forma que temos “spin
doctors” na política e nos média, também temos “spin scholarship.”.
VI. A Influência do Desconstrucionismo
A influência do Desconstrucionismo nos EUA tem sido omnipresente. Ela pode ser encontrada nos filmes, nos vídeos de música rock,
nos livros escolares de história, nas campanhas políticas, na teologia
e nos assuntos religiosos, nas artes de representação, nos anúncios
publicitários, nos estudos étnicos ou estudos sexuais, e especialmente
na crítica literária onde ela surgiu. Eis aqui alguns exemplos:
A. Um desenho animado recente "desconstrói" a história de Pocahontas. O
desenho animado artístico exibe ela a apaixonar-se pelo colono John
Smith, a quem ela converte para a adoração de Gaia (Terra). Na verdade,
ela nunca esteve romanticamente envolvida com John Smith; ela
converteu-se ao Cristianismo, casou-se com John Wolfe e viveu o resto
dos seus dias na Inglaterra.
B. Teologia Feminista.
É a tentativa de reconstruir a história da salvação tal como revelada
no Cristianismo em termos feministas. Outras tentativas de
reconstrução são os Muçulmanos Negros com a sua "desconstrução"
peculiar do islão.
C. Traduções inclusivas das Escrituras e a rescrição de hinos Cristãos antigos. O texto original é "desconstruído" de modo a que esteja de acordo com as
sensibilidades étnicas e sensibilidades de grupo modernas.
D. Os livros escolares de História das escolas primárias.
Num recente livro escolar sobre a história dos EUA George
Washington mal recebe algum tipo de menção. Quando o autor foi
questionado sobre a sua omissão num também recente programa televisivo,
ele respondeu: "Ele era um dono de escravos, aristocrata e branco."
E. Ciência. A influência do pensamento desconstrucionista junto do establishment
científico está a causar um alarme de proporções consideráveis. Os
deconstrucionistas alegam que os cientistas mais não são que a elite
sacerdotal do establishment
que produz melhor tecnologia para a opressão. Para um excelente estudo
da influência que o Desconstrucionismo tem na ciência, ver: "HIGHER SUPERSTITION: THE ACADEMIC
LEFT AND ITS QUARRELS WITH SCIENCE" (por Paul R. Gross and Norman Levitt).
VII. Uma Crítica ao Desconstrucionismo
(Nota: O Desconstrucionismo pode parecer fácil de ser refutado para nós
Cristãos visto que o mesmo está claramente contra o pensamento lógico.
Isto é verdade, mas temos que nos lembrar que para os
Desconstrucionistas, a controvérsia é primordialmente emocional. Os
Cristãos são o pior pesadelo dos Desconstrucionistas visto que eles [os
Cristãos] insistem na existem da Palavra Transcendental e na posição de
que a realidade é inteligível.)
Os desconstrucionistas são relativistas mas os relativistas confessos não podem ser relativistas consistentes.
Se a verdade não existe, o que é que nos impede de desconstruir o
Desconstrucionismo? Se "nada é verdade", como eles defendem, porque é
que deveríamos acreditar nessa proposição? Porque é que deveríamos
associar alguma tipo de valor aos seus escritos? Por exemplo, os
desconstrucionistas frequentemente lançam ofensivas contra o cânone
ocidental (os grandes clássicos), mas depois viram o argumento e
colocam no seu lugar os seus
próprios "clássicos" e os seus "cânones". Uma professora rejeita os
escritos de Shakespeare porque ele era "demasiado heterossexual", mas
depois ela recomenda aos alunos a sua selecção de livros de estudo!
A moralidade é o calcanhar de Aquiles do Desconstrucionismo e o melhor que eles fariam era permanecer em silêncio; mas eles não permanecem em silêncio. Elas falam de um modo bem vocal sobre a
opressão como se isso fosse um mal enorme. Segundo os seus próprios
escritos, afirmar que algo está certo para outra pessoa ou para outro
grupo seria "logocêntrico".
Os desconstrucionistas têm razão quando afirmam que a interpretação é de
certa forma subjectiva e, quando se tenta apurar a mente do autor,
limitada. No entanto, embora nós não saibamos de forma exaustiva, nós podemos saber de forma verdadeira.
Se assim não fosse, a civilização seria impossível.
Na história da
filosofia muito provavelmente não há um exemplo mais claro de
solipsismo. Se nós formos ler os seus livros de forma séria (será que
eles querem que os leiamos?), então a comunicação é impossível. (Solipsismo: “a inabilidade total se obter conhecimento para além da sua própria mente")
O leitor passa a ser o artista, e o autor/actor já não tem o direito
sobre o significado intencionado do seu trabalho. Toda a criatividade
chega-nos através da interpretação dum texto.
Dentro do pensamento modernista, os desconstrucionistas correctamente
rejeitam a razão como algo absoluto. No entanto, a razão é parte
integrante da IMAGO
DEI [Imagem de Deus]. A única forma consistente de dispensar a lei da
não-contradição de todo o discurso é abolindo todo o discurso e todas
as tentativas de comunicação que os deconstrucionistas não levam a
cabo. A realidade dos factos é que eles escrevem dezenas de livros e
são faladores incansáveis (circumloquacious).
Isto até parece que o discurso (para aqueles que denigrem a linguagem)
para os desconstrucionistas é uma forma de auto-afirmação, isto é, "Eu falo (escrevo), logo, eu existo."
Os desconstrucionistas vivem consumidos com uma animosidade dirigida a
todos aqueles que são logocêntricos, modernistas e especialmente os
Cristãos, e acreditam que estes últimos [os Cristãos] são a causa de todo o preconceito e toda a opressão que existe no mundo.
VIII. Conclusão
O Cristianismo acredita que o Logos é Transcendente em relação ao
mundo, mas não imanente; o Logos não é subordinado, mas igual a Deus;
pessoal, e não impessoal, reflectido em toda a criação, especialmente
na humanidade. Os Absolutos existem devido à Palavra revelada. (Ver João 1:1-12)
"O autor tem que morrer para que o leitor possa viver" (citação desconstrucionista com origem desconhecida)
"...a guerra do descrente
contra a Palavra (isto é, a sua guerra contra as Escrituras e contra
Cristo) irá leva-lo para a guerra contra a palavra - toda a linguagem
humana e todo o significado. Visto que eles rejeitam a Palavra de Deus
Transcendental, que é a Verdade de Deus, eles são conduzidos no domínio imanente para rejeitar a ideia da palavra, o significado e também a
lógica." Gregory L. Bahnsen (1948-1995).
Para estudo adicional:
1. Carson, D.A. and Woodbridge, John D. GOD AND CULTURE. Ver Capítulos 1 e 2.
2. Culler, Jonathan. ON DECONSTRUCTION.
3. Ellis, John M. AGAINST DECONSTRUCTIONISM.
4. Lehman, David. SIGNS OF THE TIMES: DECONSTRUCTION AND THE FALL OF PAUL DE MANN.
5. D'Souza, Dinesh. ILLIBERAL EDUCATION: THE POLITICS OF RACE AND SEX ON CAMPUS. Ver Chapter 6.
6. Lundin, Roger. THE CULTURE OF INTERPRETATION: CHRISTIAN FAITH IN A POSTMODERN WORLD.
7. Phillips, Timothy R. and Okholm, Dennis L. ed. CHRISTIAN APOLOGETICS IN THE POST MODERN WORLD.
8. Thiselton, Anthony C. NEW HORIZONS IN HERMENEUTICS.
9. Veith, Gene Edward, Jr. MODERN FASCISM: LIQUIDATING THE JUDEO- CHRISTIAN WORLDVIEW. Ver pp. 135-144.
10. Veith, Gene Edward, Jr. POSTMODERN TIMES: A CHRISTIAN GUIDE TO CONTEMPORARY THOUGHT AND CULTURE.
11. Walhout, Clarence, and Ryken, Leland. ed. CONTEMPORARY LITERARY THEORY: A CHRISTIAN APPRAISAL