Mesmo os aficionados pelo crime - aqueles familiarizados com nomes como Shipman, Nilsen, Sutcliffe e West - pouco ou nada sabem dela. Ela foi practicamente apagada da História e permanece apenas como uma curiosidade meio esquecida do Nordeste inglês.
A sua escolha de veneno era o arsénico, favorito dos assassinos da História largamente por motivos pragmáticos:
- Dissolve-se em líquidos quentes (ex: chá) e como tal é fácil administrá-lo.
- Encontrava-se largamente disponível.
Havia ainda um terceiro motivo:
- Como era do conhecimento de Mary Ann, os sintomas de envenenamento por arsénico eram vómitos, diarreia e desidratação. Um médico ocupado e sem qualquer tipo de desconfiança estava mais propenso a diagnosticar esta junção de sintomas como gastroenterite - especialmente em pacientes pobres e subnutridos - e não como assassínio.
Aparentemente ela desempenhou o papel de esposa e mãe em luto na perfeição, dificultando ainda mais a contabilização exacta do número de pessoas que ela matou.
É difícil não acreditar que havia um elemento de gratificação no controle que ela exercia - que ela era, dito de outro modo, uma psicopata. Não há duvidas de que a ganância era um motivo bastante forte à medida que marido após marido, ela subia a escada social da nova e móvel sociedade - onde, pela primeira vez, as pessoas comuns tinha seguro de vida.
A sua desesperada auto-promoção e a maneira terrível como ela a levou a cabo garantiram uma audiência estranhamente simpatética nos seus meses finais e depois da sua execução. Isto leva-nos a ficar confusos em relação ao nosso entendimento duma mulher que, segundo qualquer tipo de padrão, era uma assassina implacável.
Se a vida moderna a tinha acompanhado e a tinham transformado no "monstro com forma humana", como mais tarde foi descrita no Newcastle Chronicle, ela [a vida moderna] também forneceu os meios que levaram à sua prisão. Ela havia envenenado o filho adoptivo de 7 anos, Charles Edward Cotton, no Verão de 1872 - aparentemente como forma de desbravar caminho para mais um relacionamento, desta vez com Quick-Manning.
Depois dum post-mortem levado a cabo numa mesa de cozinha, foi determinada a morte por "causas naturais".
Mas isto não foi suficiente para a policia, os jornais e a nova disciplina da ciência forense, que, juntas, desempenharam o seu papel na revelação do seu passado. Foram os jornalistas, motivados pela fofoca local, que inicialmente solicitaram as investigações que rapidamente revelaram o número total de maridos mortos, filhos perdidos e as evidências de assassínio por arsénico.
E a polícia - ainda uma força relativamente nova na vida provincial - agiu em conformidade.
Em 1873, Mary Ann Cotton foi presa, julgada e enforcada pelo assassínio de Charles Edward Cotton. Alguns dos restos da criança foram exumados do jardim do Dr Kilburn, que supostamente o havia enterrado lá por ter dúvidas em relação ao motivo da morte.
Amostras foram levadas e, usando métodos que eram na altura revolucionários, a presença de arsénico foi confirmada pelo Dr Thomas Scattergood da Leeds School of Medicine.
O julgamento de Mary Ann em Durham Crown Court durou 3 dias. Depois de ter sido determinada como culpada, ela foi executada na prisão de Durham no dia 24 de Março de 1873 por um enforcador profissional com o nome de William Calcraft.
Mesmo a forma como ela se deparou com o seu fim revelou-se sensacional. Da sua cela, Mary Ann escreveu uma carta aos jornais protestando a sua "inocência". Depois disto, ela gerou mais simpatia para si quando deu à luz uma criança quando ainda se encontrava na prisão e viu a menina a ser-lhe retirada das mãos antes da execução.
O próprio enforcamento foi terrivelmente mal feito. A falha que havia por baixo dela era demasiado baixo, e como tal Mary ficou a movimentar-se na extremidade da corda.. Devido a isto, Calcraft viu-se na obrigação de puxá-la para baixo como forma de terminar com a sua vida.
A pouca análise histórica que ela recebeu tem sido bastante ingénua, citando-a como um exemplo das "dificuldades" suportadas pelas mulheres e chegando mesmo a afirmar que ela foi vítima de denegação da justiça.
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Aparentemente as mulheres são sempre vítimas, mesmo quando elas são aquilo que as sociedades mais temem, isto é, implacáveis e prolíficas assassinas em série.
Como é possível que uma pessoa - homem ou mulher - que mata 21 pessoas (incluindo vários maridos e várias crianças) seja virtualmente desconhecida passados que estão 139 anos depois da sua execução?
Uma pergunta para quem é contra a pena de morte: que pena merece uma pessoa que mata 21 pessoas inocentes - incluindo crianças de 7 anos - como forma de adquirir dinheiro e estatuto social?
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