quarta-feira, 6 de abril de 2011

Companhia de Jesus e o seu papel na infiltração comunista na Igreja Católica

Às avessas

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 22 de novembro de 2010

Se você lê com a dose esperada de ingenuidade as declarações de Mehmet Ali Agca na versão que O Globo publicou no último dia 11, fica com a nítida impressão de que descobriu finalmente a verdade sobre o atentado que quase matou o Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981. Quem encomendou o crime, diz Agca, não foi a KGB, mas o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Agostino Casaroli. O jornal carioca descreve Agca como “membro de um grupo de extrema-direita” e Casaroli como “uma das figuras centrais do esforço do Vaticano para defender a Igreja nas nações do bloco soviético”.

A conclusão, implícita mas nem por isso menos eloqüente, só pode ser uma: a maldita direita católica tramou o assassinato para frustrar a abertura diplomática do Vaticano para com o governo soviético.

Se ainda restasse um pingo de consciência jornalística no Globo, uma breve pesquisa teria bastado para informar ao autor da matéria que:

1. O cardeal Casaroli pode ter escrito no seu livro de memórias umas coisinhas quanto ao sofrimento dos cristãos na URSS, mas, no campo da ação prática, muito mais decisivo para o conhecimento das intenções humanas do que meras palavras, foi ele próprio o grande articulador da “abertura para o Leste”, um dos maiores responsáveis pelo ingresso em massa de comunistas no clero e, last not least, o cérebro por trás da grande operação de engenharia política destinada a esvaziar a Igreja da sua missão espiritual tradicional e transformá-la numa agência da Nova Ordem Mundial. Nos escalões superiores da hierarquia vaticana, ele era o protetor por excelência da Companhia de Jesus, criadora da “Teologia da Libertação” e quartel-general dos comunistas infiltrados na Igreja. De todos os altos dignitários da Igreja Católica na época, nenhum teve mais contatos com os governos comunistas do que ele. Se algo ele fez em favor dos católicos perseguidos, muito mais fez para submeter a Igreja Católica ao jogo comunista.

2. Embora Mehmet Ali Agca tivesse realmente participado de uma organização de extrema-direita, os “Lobos Cinzentos”, nos meses que precederam o crime ele esteve em intenso contato, não com a KGB diretamente, mas com o serviço secreto da Bulgária comunista. Contratar assassinos que serviram ao outro lado é prática quase obrigatória de organizações desse tipo quando desejam matar algum personagem famoso. O envolvimento búlgaro no atentado foi abundantemente provado pela repórter Claire Sterling no livro The Time of the Assassins (Henry Holt & Co., 1983), e uma negativa genérica de participação “da KGB”, sem qualquer menção à Bulgária, é com toda evidência mera desconversa.

3. O estado de guerra entre Casaroli e João Paulo II durante todo o reinado deste último é fato universalmente conhecido, e nessa guerra a “maldita direita” era representada pelo Papa, não pelo cardeal, que o grande conhecedor de intrigas vaticanas, Malachi Martin, no roman à clef que publicou sob o título Windswept House (“A Casa Batida pelo Vento”) retrata, sob o nome de Cosimo Maestroianni, como um ateu puro e simples.

Mesmo admitindo-se que a denúncia de Mehmet Ali Agca contra o ex-secretário de Estado seja verdadeira, coisa que não tenho a menor condição de afirmar ou negar, resta o fato de que o crime foi cometido a favor dos interesses comunistas e não contra eles. Com ou sem Casaroli, a mão assassina atacou pelo lado esquerdo. Mais uma vez O Globo brinda seus leitores com uma história contada às avessas.

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