quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Camille Paglia e as virtudes masculinas


Camille Paglia está muito longe de ser uma tradicionalista. Ela é uma erudita feminista que eu já critiquei no passado devido ao seu niilismo vitalista (ver aqui e aqui). Mas mesmo assim, ela é uma pensadora independente que tece críticas válidas ao modernismo liberal.

Na sua mais recente entrevista, Paglia voltou a criticar a ideia liberal de que as distinções sexuais são uma construção opressora que têm que ser abolidas. Mesmo quando ela era um jovem académica, ela não aceitou a negação das distinções biológicas entre os homens e as mulheres:
Houve um momento em que ela [Paglia] "mal conseguiu suportar todo o jantar" quando saiu com um grupo de professoras de estudos femininos do "Bennington College", local onde ela teve o seu primeiro emprego como professsora, que insistiram que não havia qualquer tipo de diferença hormonal entre o homem e a mulher. "Eu saí antes da sobremesa." 
Paglia acredita que a negação das distinções sexuais levaram à desnaturação do homem e da mulher, e a uma cultura que "não permite que as mulheres sejam mulheres" e que deixa os homens "sem exemplos de masculinidade."

Eu já falei um bocado sobre isso aqui neste blogue. O que é diferente é que a Camille Paglia prossegue, fazendo uma ligação entre a "neutralização da masculinidade" com o declínio civilizacional. Segundo Paglia, "O que estamos a observar é a forma como uma civilização comete suicídio." Para Paglia, o mundo seria bem melhor se mais políticos fizessem serviço militar:
Dentro da classe elitista, quer seja nas finanças, na política e assim por adiante, nenhum deles fez serviço militar - quase nenhum, porque ainda há uns poucos. Mas já não há prestígio associado ao serviço militar. Isso é receita para desastre.
Por razões que irei explicar de seguida, acredito que os seus instintos estão no caminho certo aqui, embora ela não dê uma explicação convincente para a sua posição. Ela diz o seguinte da actual colheita de políticos:
Estas pessoas não pensam de uma forma militar, e como tal, há esta ilusão de que as pessoas são basicamente simpáticas, e que se nós formos gentis e benevolentes com todos, eles também o serão. Eles não têm percepção nenhuma do mal e da criminalidade.
Eu não acredito que este seja o ponto fulcral em jogo. Primeiro, deixa-me dizer que, desde que a ideologia estatal seja o liberalismo, não interessa qual é o calibre do líder que existe. Um melhor líder colocaria o seu talento ao serviço dos propósitos errados.

No entanto, eu sou de opinião de que a sociedade moderna tende a produzir líderes que estão presos no nível material. Eles tendem a ser tecnocratas: "homens económicos" que estão mais fortemente orientados para os resultados materiais tais como o PIB, e que olham para a nação como um veículo para estabelecer poder e influência internacionalmente ou remodelar a sociedade doméstica segundo linhas orientadoras fortemente ideológicas. Estes líderes querem estabelecer um estado administrativo que, em prol dum funcionamento racional e equitativo, preferem lidar com as pessoas como unidades abstractas e intercambiáveis​​.

Portanto, mesmo que se consiga substituir o liberalismo como ideologia estatal, nós ficamos mesmo assim com a tarefa de produzir líderes com uma mentalidade melhor que esta. Precisamos duma classe de elite que tenha sido educada para ascender para cima do crude nível de pensamento material  (a para cima da ideologia reducionista).

A pergunta é: como é que isto pode vir a ser feito?

Uma das formas é permitir que os rapazes e os jovens pertençam a fraternidades dos mais variados tipos visto que isto tende a desenvolver virtudes tais como a lealdade, a coragem, a honra, a auto-disciplina, bem como um sentido de história e tradição. O exército é uma das instituições que têm algumas das características duma fraternidade (pese embora o facto dos exércitos dos países Ocidentais estarem a ser feminizados) - e é por isso que eu penso que o instinto de Camille Paglia está parcialmente correcto.

As escolas também podem agir como fraternidades, embora apenas sob algumas condições. Se uma escola para rapazes tem uma história longa, boas instalações, uma boa tradição desportiva, funcionários maioritariamente machos (e masculinos), e a habilidade de executar disciplina, então ela é mais susceptível de ter as raízes duma cultura fraternal entre os rapazes. As equipas desportivas funcionam como fraternidades; o mesmo pode ser dito de organizações de actividade tais como os escuteiros; tal como os cadetes; tal como organizações de serviços; tal como organizações de ajuda tais como os salva-vidas. Até as ocupações masculinas e locais de trabalho podem ter o mesmo efeito.

Não é de estranhar que o sentido da virtude masculina esteja em declínio, dado que a maior parte das fraternidades foram feminizadas. Até os escuteiros ["boy scouts"] tiveram que abdicar da parte "boy" da sua existência.

Não estou a sugerir que as fraternidades são suficientes para gerar uma elite com maior qualidade, no entanto, eu acredito que elas fazem parte do processo que pode atingir este objectivo - de colocar os homens a pensar para além do materialismo ou individualismo hedonista. Essa foi parte da razão da sua existência - o cultivo da virtude masculina - dentro da tradição Ocidental.

* * * * * * *
O problema é que que a destruição da masculinidade faz parte da agenda politica globalista - principalmente, ou quase exclusivamente, da masculinidade do homem branco. E é aí que entram a agenda feminista e a agenda gayzista.



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