domingo, 5 de outubro de 2014

A Escola de Frankfurt e o Politicamente Correcto - Parte 1

Pelo Schiler Institute

As pessoas da América do Norte e da Europa Ocidental aceitam actualmente um nível de feiúra no seu dia a dia que é quase sem precedente na história da civilização Ocidental. A maior parte de nós tornou-se tão acostumada, que a morte de milhões devido à fome e à doença não causa em nós mais do que um suspiro, ou um murmúrio de protesto. As próprias ruas das nossas cidades tornaram-se o lar de legiões de pessoas sem abrigo, dominadas pela Dope, Inc, a maior indústria do mundo, e nessas ruas os Americanos matam-se a um nível nunca visto deste a Idade das Trevas.

Ao mesmo tempo, milhares de pequenos horrores tornaram-se tão comuns que passam despercebidos. O tempo que as nossas crianças passam em frente a uma televisão é practicamente o mesmo que passam nas escolas, vendo, com satisfação, cenas de tortura e morte que poderiam ter chocado as audiências dos Coliseus Romanos. Por todo o lado encontra-se a música - virtualmente inevitável - mas ela não eleva e nem tranquiliza; ela agarra-se aos nossos ouvidos, cuspindo obscenidades. As nossas artes plásticas são feias, a nossa arquitectura é feia, as nossas roupas são feias.

Certamente que houve períodos da história onde a humanidade viveu através de tipos semelhantes de brutalidade, mas a nossa era é crucialmente diferente. A nossa era do pós-Segunda Grande Guerra Mundial é a primeira na história onde esses horrores são totalmente evitáveis. A nossa era é a primeira a ter a tecnologia e os recursos para alimentar, abrigar, educar e humanamente empregar todas as pessoas da Terra, independentemente do crescimento da população. No entanto, quando as ideias e as tecnologias comprovadas que podem resolver os problemas mais horrendos nos são mostradas, a maior parte das pessoas retrai-se para uma passividade implacável. Nós não só nos tornamos feios mas impotentes.

Mesmo assim, não existe um porquê da nossa situação cultural-moral se ter justificadamente ou naturalmente tornado da forma que está; e não há motivos para que esta tirania da feiúra continue a existir por mais algum instante.

Consideremos a situação que existia há apenas 100 anos atrás, no princípio dos anos 1890s. Na música, Claude Debussy estava a terminar o seu Prelude to the Afternoon of a Faun, e Arnold Schönberg começava a ter experiências com o atonalismo; ao mesmo tempo, Dvorak trabalhava na sua Nona Sinfonia, enquanto Brahms e Verdi ainda se encontravam vivos. Edvard Munch estava a exibir a obra com o nome de The Scream, e Paul Gauguin o seu Self-Portrait with Halo; nos Estados Unidos Thomas Eakins ainda se encontrava a pintar e a ensinar.

Mecanicistas tais como Helmholtz e Mach ainda tinham na sua posse as maiores cadeiras universitárias de ciência, lado a lado com os alunos de Riemann e Cantor. O De Rerum Novarum do Papa Leo XIII estava a ser promulgado, precisamente numa altura em que facções da Segunda Internacional Socialista se estava a tornar terroristas e a prepararem-se para a guerra.

A crença optimista que se poderia compor musica como Beethoven, pintar como Rembrandt, estudar o universo como Platão e Nicolau de Cusa, e alterar a sociedade mundial sem violência, encontrava-se viva durante os anos 1890s - reconhecidamente, essa crença estava fragilizada e sitiada, mas não estavam morta. No entanto, no curto espaço de 20 anos, estas tradições Clássicas da civilização humana foram varridas, e o Ocidente envolveu-se numa série de guerras com uma carnificina inconcebível.

O que teve início há cerca de 100 anos atrás, foi o que pode ser chamado de contra-Renascimento. O Renascimento dos séculos 15 e 16 foi a celebração religiosa da alma humana e do potencial da humanidade para o crescimento. A beleza na arte não poderia ser vista como algo menos que a expressão dos mais avançados princípios científicos, tal como demonstrado na geometria sobre a qual a perspectiva de Leonardo e a enorme Cúpula da Catedral de Florença de Brunelleschi se baseiam. As mentes mais brilhantes voltaram os seus pensamentos para os céus e para as águas poderosas, e mapearam o sistema solar e a rota para o Novo Mundo, planeando grandes projectos que iriam alterar o trajecto dos rios para o benefício da humanidade.

Há cerca de 100 anos atrás, foi como se tivesse sido escrita uma enorme lista de verificação [inglês: "checklist"] discriminando todas as realizações do período do Renascimento  - e todas elas para serem revertidas. Como parte deste "Movimento da Nova Era", como ficou conhecida por essa altura, o conceito da alma humana foi  debilitado pela mais vocal campanha intelectual da história; a arte foi forçosamente separada da ciência, e a própria ciência transformou-se em algo sob suspeita. A arte foi tornada feia porque, foi dito, a vida se tinha tornado feia.

A mudança cultural para longe das ideias do Renascimento que construíram o mundo moderno, deve-se a um tipo de maçonaria da feiúra. No princípio, ela foi uma conspiração política formal feita com o propósito de popularizar teorias que foram criadas propositadamente para enfraquecer a civilização Judaico-Cristã duma forma que fosse possível levar as pessoas acreditar que a criatividade não era possível, que a aderência à verdade universal era uma forma de autoritarismo, e que a própria razão era suspeita. Como meio de manipulação social, esta conspiração foi importante no planeamento e desenvolvimento das vastas industrias "irmãs" da rádio, televisão, filmes, música gravada, publicidade, e as pesquisas da opinião pública.

O domínio generalizado dos média foi propositadamente fomentado como forma de gerar a passividade e o pessimismo que actualmente afligem as nossas populações. Esta conspiração foi tão bem sucedida que ela se incorporou na nossa cultura; já não precisa de ser uma "conspiração" visto que ganhou vida própria. Os seus sucessos não estão abertos a debate; para se confirmar isto, basta ligar o rádio ou a televisão. Até mesmo a nomeação dum juiz para o Tribunal Supremo foi deformada para um novela erótica, com o público a torcer de lado pelas suas figuras favoritas.

As nossas universidades, berço do nosso futuro tecnológico e intelectual, foram sobrepujadas pelo Politicamente Correcto da Nova Era ao estilo do Comintern. Com o colapso da União Soviética, os nossos terrenos universitários representam actualmente a maior concentração de dogma Marxista no mundo. Os irracionais e adolescentes desabafos emotivos dos anos 60 institucionalizaram-se numa "revolução permanente". Os nossos professores olharam sobre os seus ombros, esperando que o status quo termine antes que uma denúncia estudantil destrua o trabalho duma vida; alguns professores gravam as suas palestras, temendo acusações de "insensibilidade" por parte de algum "Guarda Vermelho" enraivecido.

Os estudantes da Universidade da Virginia foram bem sucedidos na sua petição de colocar de parte a requisição de ler Homero, Chaucer, e outros DEMS ("Dead European Males" = "Homens Europeus Mortos") porque tais escritos foram considerados etnocêntricos,  falocêntricos, e de modo geral, inferiores a outros autores "mais relevantes" do Terceiro Mundo, do sexo feminino ou homossexuais. Isto não é o mundo académico duma república; isto é a Gestapo de Hitler e a NKVD de Estaline a extirparem os "desviacionistas", e a banirem livros. A única coisa que falta é a fogueira pública.

Temos que aceitar o facto de que a feiúra que vemos em nosso redor foi conscientemente promovida e organizada de tal forma, que a larga maioria da população está a perder a sua habilidade cognitiva de transmitir para a próxima geração as ideias e os métodos sobre os quais a nossa civilização foi construída. A perda desta capacidade é o primeiro indicador da Idade das Trevas, e é precisamente aí onde nos encontramos - numa nova Idade das Trevas. Em situações como esta, a registo da história não deixa dúvidas: ou recriamos o Renascimento - o renascimento dos princípios fundamentais sobre os quais se originou a nossa civilização - ou a nossa civilização morre.

I. A Escola de Frankfurt: Intelligentsia Bolchevique

O componente organizacional único e mais importante desta conspiração foi um grupo de reflexão Comunista com o nome de "Instituto para Pesquisa Social" ["Institute for Social Research" (I.S.R.), em alemão: "Institut für Sozialforschung"], mas normalmente conhecido como a Escola de Frankfurt.

Nos seus tempos áureos logo após a Revolução Bolchevique, acreditava-se fortemente que a revolução do proletariado iria a qualquer momento transbordar dos Urais para a Europa e, por fim, para a América do Norte. Isso não aconteceu; as duas únicas tentativas de se instalar um governo dos proletariado no Ocidente - em Munique e em Budapeste - duraram apenas alguns meses. A Internacional Comunista (Comintern) deu início a várias operações para determinar o porquê disso se ter desenvolvido desta forma. Uma dessas operações era liderada por Georg Lukacs, um aristocrata Húngaro, filho de um dos banqueiros mais importantes do Império Habsburgo.

Educado na Alemanha e sendo já um importante teórico literário, Lukacs tornou-se comunista durante a Primeira Guerra Mundial, escrevendo, enquanto se afiliava ao partido, "Quem nos salvará da civilização Ocidental?" Lukacs era perfeito para plano do Comintern: ele havia sido um dos Comissários da Cultura durante o curto Soviete Húngaro em Budapeste em 1919; de facto, os historiadores modernos defendem que a curta duração da experiência de Budapeste está ligada ao facto de Lukacs ter ordenado a educação sexual nas escolas, o acesso facilitado aos contraceptivos, e o afrouxamento das leis do divórcio - tudo coisas que causaram enorme repulsa à população Católica Romana da Hungria.

Fugindo para a União Soviética depois da contra-revolução, Lukacs foi colocado dentro da Alemanha, onde ele presidiu uma reunião de sociólogos e intelectuais com orientação Comunista. Esta reunião fundou o Instituto para Pesquisa Social. Durante a década que se seguiu, o Instituto criou aquela que foi a mais bem sucedida operação de guerra psicológica do Comintern contra o Ocidente capitalista.

Lukacs afirmou que qualquer movimento político capaz de trazer o Bolchevismo para o Ocidente teria que ser, usando as suas próprias palavras, "demoníaco"; esse movimento teria que "ter o poder religioso que seja capaz de preencher toda a alma; um poder que caracterizou o Cristianismo primitivo". No entanto, sugeriu Lukacs, tal movimento político "messiânico" só seria bem sucedido quando o indivíduo começasse a acreditar que as suas acções eram determinadas "não por um destino pessoal, mas pelo destino da comunidade" num mundo "que foi abandonado por Deus".

O Bolchevismo funcionou na Rússia porque a nação estava dominada por um tipo peculiar de Cristianismo gnóstico tipificado pelos escritos de Fyodor Dostoyevsky. "O modelo do homem novo é Alyosha Karamazov," afirmou Lukacs,  referindo-se à personagem de Dostoyevsky que se encontrava disposta a colocar de lado a sua identidade pessoal em favor do homem santo, e, desde logo, deixando de ser "único, puro, e consequentemente abstracto".

O abandono da singularidade da alma resolve também o problema das "forças diabólicas a espreitar com toda a violência", forças essas que têm que ser libertas de forma a causar a revolução. Dentro deste contexto, Lukacs citou a secção do Grande Inquisidor do livro de Dostoyevsky "Os Irmãos Karamazov", ressalvando que o Inquisidor que está a interrogar [o Senhor] Jesus, já resolveu a questão do bem e do mal: a partir do momento em que o homem entende a sua alienação de Deus, qualquer acto em serviço do "destino da comunidade" é justificado; tal acto "não é nem crime e nem loucura..... Visto que o crime e a loucura são objectificações da falta de moradia transcendental."

Segundo uma testemunha, durante os encontros da liderança do Soviete Húngaro em 1919 - encontros levados a cabo para se estabelecerem listas para os esquadrões de atiradores - Lukacs citou com frequência o Grande Inquisidor:
E nós que, para a sua felicidade, tomamos sobre nós os seus pecados, encontramo-nos perante vós e declaramos: 'Julguem-nos se forem capazes e se tiverem coragem'.
O Problema de Génesis

O que distinguia o Ocidente da Rússia, defendia Lukacs, era a matriz cultural Judaico-Cristã que colocava ênfase precisamente na singularidade e na sacralidade do individuo que Lukacs repudiava. No seu cerne, a ideologia Ocidental dominante defendia  que o indivíduo podia, através do exercício da sua razão, discernir a Vontade Divina através dum relacionamento sem mediação. Para piorar as coisas, segundo o ponto de vista de Lukacs:, este relacionamento sensato necessariamente implicava que o indivíduo poderia alterar o universo físico na sua busca pelo Bem, isto é, que o Homem deveria ter o domínio sobre a Natureza, tal como declarado na ordem formal Bíblica [Génesis 1:28].

O problema era que, enquanto o indivíduo tivesse a crença - ou até a esperança da crença - de que a sua faísca Divina da razão podia resolver os problemas que a sociedade enfrentava, então a sociedade nunca iria chegar ao estado de desespero e alienação que Lukacs reconheceu como sendo um pré-requisito necessário para a revolução socialista.

A tarefa da Escola de Frankfurt era, então, a de fragilizar o legado Judaico-Cristão através da "abolição da cultura" (Aufhebung der Kultur no Alemão de Lukacs); e, posteriormente, determinar novas normas culturais que iriam aumentar a alienação da população, criando consequentemente um "novo barbarismo". Para levar a cabo esta tarefa, reuniu-se em torno da Escola de Frankfurt um lista incrível não só de Comunistas, mas também de socialistas não afiliados ao partido, fenomenólogos radicais, Sionistas, Freudianos renegados, e pelo menos alguns membros do auto-identificada "culto of Astarte."

A membrasia variegada reflectiu, de certa forma, os patrocínios: embora o Instituto para Pesquisa Social tenha começado com o apoio do Comintern, durante as três décadas que se seguiram as suas fontes de financiamento incluíam várias universidades Alemãs e Americanas, a Fundação Rockefeller, a Columbia Broadcasting System, o Comité Judaico Americano, vários agências de serviço secreto Americanas, o "Office" do "U.S. High Commissioner" para a Alemanha, o "International Labour Organization", e o "Hacker Institute", a clínica psiquiátrica fina de Beverly Hills.

O mesmo acontecia com as alianças políticas do Instituto: embora a liderança mantivesse o que se pode chamar de relacionamento sentimental com a União Soviética (e há evidências de que alguns dos membros do Instituto trabalharam para os serviços secretos Soviéticos durante os anos 60), o Instituto tinha objectivos mais alargados que os objectivos da política externa da Rússia. Estaline, que se encontrava horrorizado com a operação indisciplinada e "cosmopolita" iniciada pelos seus predecessores, cortou a ligação com o Instituto no final da década 20, forçando Lukacs a uma "auto-crítica", e colocando-o na prisão por alguns breves momentos durante a Segunda Guerra sob acusação de ser um simpatizante Alemão.

Lukacs sobreviveu e retomou por um breve período ao seu antigo lugar de Ministro da Cultura durante o regime anti-Estalinista de Imre Nagy na Hungria.

Entre as figuras de topo do Instituto, as perambulações políticas de Herbert Marcuse são típicas. Ele começou como um Comunista, tornou-se um protegido do filósofo Martin Heidegger mesmo durante o período em que este último se afiliava ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães; quando veio para os Estados Unidos, trabalhou para o "World War II Office of Strategic Services" (OSS), e mais tarde tornou-se no analista principal do "U.S. State Department" em torno das políticas Soviéticas durante o ponto mais elevado do período de McCarthy; durante os anos 60, ele voltou a mudar, tornando-se no mais importante guru da Nova Esquerda, acabando os seus dias ajudando a fundar o partido ambientalista extremista da Alemanha Ocidental, o Partido Os Verdes.

De maneira geral, esta incoerência na mudança de lado político e nas contraditórias fontes de financiamento não significa conflito ideológico. O que não muda é o desejo de todos os partidos de responder à pergunta original de Lukacs: "Quem nos salvará da civilização Ocidental?"

Theodor Adorno e Walter Benjamin

Provavelmente, o sucesso mais significativo, embora menos sabido, da Escola de Frankfurt foi o de moldar os meios de comunicação electrónicos da rádio e da televisão de modo a que eles fossem poderosos instrumentos de controle social que eles actualmente são. Isto é consequência do trabalho originalmente feito por dois homens que chegaram ao Instituto durante os anos 20: Theodor Adorno e Walter Benjamin.

Depois de completar os seus estudos na Universidade de Frankfurt, Walter Benjamin planeou, em 1924, emigrar para a Palestina com o seu amigo Gershom Scholem (que se tornou mais tarde num dos filósofos mais famosos de Israel, bem como um dos gnósticos mais importantes do Judaísmo), mas a sua relação amorosa com a actriz Lituana, e longarina do Comintern Asja Lacis, impediram-no.

Lacis levou-o para a ilha Italiana de Capri, centro de culto deste os tempos do Imperador Tibério, usado por essa altura como base de treino do Comintern; o até então apolítico Benjamin escreveu a Scholem desde Capri, afirmando que havia encontrado "uma libertação existencial e um discernimento intenso sobre a actualidade do comunismo radical."

Depois disto, Lacis levou Benjamin para Moscovo para mais indoutrinção, onde ele conheceu o dramaturgo Bertolt Brecht, com quem iria dar início a uma longa colaboração; pouco depois, enquanto ainda trabalhava na primeira tradução Alemã do entusiasta das drogas, o poeta Francês Baudelaire, Benjamin deu início a experiências sérias com alucinogénos.

Em 1927, ele encontrava-se em Berlim como parte dum grupo liderado por Adorno, estudando os trabalhos de Lukacs; outros membros do grupo de estudo incluíam Brecht e o seu compositor-parceiro Kurt Weill, Hans Eisler, outro compositor que mais tarde se tornaria num compositor de trilhas sonoras para  Hollywood e co-autor com Adorno do livro "Composition for the Film, o fotógrafo avant-garde Imre Moholy-Nagy, e o maestro Otto Klemperer.

De 1928 a 1932, Adorno e Benjamin tiveram uma colaboração intensa, no final da qual começaram a publicar artigos para o jornal do Instituto, o Zeitschrift fär Sozialforschung. Benjamin foi mantido à margem do Instituto, muito graças a Adorno, que mais tarde se apropriaria da maior parte do trabalho de Benjamin.

Quando Hitler subiu ao poder, o Instituto fugiu, mas, ao mesmo tempo que a maior parte dos membros do Instituto foram rapidamente levados para novas paragens nos Estados Unidos e na Inglaterra, não existiram propostas de trabalho para Benjamin, muito provavelmente devido à animosidade com Adorno. Benjamin foi para a França, e, depois da invasão Alemã, fugiu para a Espanha; esperando ser preso a qualquer momento pela Gestapo, Benjamin entrou em desespero e morreu num sombrio quarto de hotel como consequência duma overdose auto-infligida.

O trabalho de Benjamin permaneceu virtualmente desconhecido até 1955, quando Scholem e Adorno publicaram um edição do mesmo na Alemanha. O revivalismo integral ocorreu em 1968 quando Hannah Arendt, a antiga amante de Heidegger e colaboradora do Instituto nos Estados Unidos, publicou um artigo importante na revista do New Yorker antes da primeira tradução Inglesa dos seus trabalhos nesse mesmo ano. Actualmente, todas as livrarias universitárias do país têm uma prateleira inteira dedicada à traduções de todos os escritos de Benjamin, todos com datas de direitos de autor dos anos 80.

Adorno era mais novo que Benjamin, e tão agressivo como o homem mais velho era passivo. Nascido com o nome de Teodoro Wiesengrund-Adorno dentro duma família Corsa, ele recebeu aulas de piano desde a mais tenra idade por parte duma tia que vivia com a família e que havia sido uma acompanhante  de concertos para a estrela de ópera internacional Adelina Patti. Era geralmente assumido que Theodor se tornadia num músico profissional, e ele estudou com Bernard Sekles, o professor de Paul Hindemith. No entanto, ainda em 1918, enquanto ainda era um estudante de ginásio, Adorno conheceu Siegfried Kracauer.

Kracauer fazia parte do grupo Kantiano-Sionista que se reunia na casa do Rabino Nehemiah Nobel, em Frankfurt; outros membros do círculo de do Rabino Nobel incluíam o filósofo Martin Buber, o escritor Franz Rosenzweig, e dois estudantes, Leo Lowenthal e Erich Fromm. Kracauer, Lowenthal, e Fromm juntar-se-iam ao Instituto para  Pesquisa Social duas décadas mais tarde. Adorno fez com que Kracauer se comprometesse a ensiná-lo a filosofia de Kant; Kracauer apresentou-lhe também os escritos de Lukacs e de Walter Benjamin, que também se encontrava por perto do grupo do Rabino Nobel.

No ano de 1924, Adorno mudou-se para a Viena para estudar com os compositores atonalistas Alban Berg e Arnold Schönberg, e passou a a relacionar-se com o círculo avant-garde e ocultista em torno do velho Marxista Karl Kraus. Aqui, ele não só conheceu o seu futuro colaborador, Hans Eisler, como entrou em contacto com as teorias do extremista Freudiano Otto Gross.

Gross, um viciado em cocaína de longa data, havia morrido numa sarjeta de Berlim em 1920 enquanto se dirigia para Budapeste, para ajudar a revolução. Ele havia desenvolvido a teoria de que a saúde mental só poderia ser atingida através do renascimento do antigo culto em torno de Astarte, que iria varrer o monoteísmo e a "família burguesa".

Salvando a Estética Marxista

Por volta de 1928, Adorno e Benjamin haviam satisfeito a sua wanderlust [sede por viagens] intelectual, e haviam-se estabelecido no Instituto - na Alemanha - como forma de levarem a cabo algum tipo de trabalho. Como tema, eles escolheram um aspecto do problema levantado por Lukacs: como dar uma base totalmente materialista à estética.

Por esta altura, esta era uma questão de alguma importância. As discussões Soviéticas oficiais da arte e da cultura, com as suas loucas rotações em torno do "realismo socialista" e do "proletkult," eram idióticas, e só serviam para desacreditar a pretensão filosófica do Marxismo entre os intelectuais. Os próprios escritos de Karl Marx em torno do assunto eram, na melhor das hipóteses, superficiais e banais.

Essencialmente, o problema de Adorno e Benjamin era Gottfried Wilhelm Leibniz. No princípio do século 18, Leibniz havia mais uma vez obliterado o antigo dualismo gnóstico de dividir a mente e o corpo, demonstrando que a matéria não pensa. Um acto criativo, na arte ou na ciência, apreende a verdade do universo físico, mas não é determinado pelo universo físico.

Ao concentrar de modo auto-consciente o passado no presente como forma de afectar o futuro, o acto criativo, definido da maneira correcta, é tão imortal como a alma que prevê o acto. Isto tem implicações filosóficas fatais para o Marxismo, que depende inteiramente da hipótese da actividade mental ser determinada pelas relações sociais da existência física que é construída pelo ser humano.

Marx evitou o problema de Leibniz, tal como o evitaram Adorno e Benjamim, embora este último o tenha feito com muito mais confiança. Segundo disse Benjamim no primeiro artigo em torno deste assunto, está errado começar com a mente razoável e geradora de hipóteses como base para o desenvolvimento da civilização; isto é um legado infeliz de Sócrates. Como alternativa, Benjamim propôs uma fábula Aristotélica na interpretação de Génesis: Vamos assumir que Éden havia sido dado a Adão como o primordial estado físico. A origem da ciência e da filosofia não se encontra na investigação e no domínio da natureza, mas sim na identificação dos objectos presentes na natureza. No estado primordial, nomear algo era uma forma de declarar tudo o que havia para dizer sobre essa mesma coisa.

Como forma de confirmar isto, Benjamim envolveu na discussão, de forma cínica, as primeiras frases do Evangelho de João, evitando cuidadosamente o Grego mais abrangente, e preferindo em seu lugar a Vulgata (de modo que na frase "No princípio era a Verbo", as conotações da palavra Grega original logos - discurso, razão, raciocínio, traduzida como "Verbo" - são substituídas pela palavra Latina com um sentido mais limitado verbum).

Depois da expulsão do Éden e do requerimento de Deus para que Adão coma o pão com o suor da sua face (a metáfora Marxista de Benjamim do desenvolvimento da economia), e depois também da maldição Divina de Babel sobre Nimrod (isto é, o desenvolvimento dos estados-nação com as suas línguas distintas, que Benjamim e Marx viam como um processo negativo longe do "comunismo primitivo" de Éden", a humanidade ficou "alienada" do mundo físico. Devido a isso, continuou Benjamim, os objectos têm ainda uma "aura" da sua forma primordial, mas a verdade é actualmente irremediavelmente indescritível.

De facto, o discurso, a língua escrita, a arte, a própria criatividade - processos através dos quais nós dominamos a fisicalidade - apenas piora a alienação, ao tentar, segundo o discurso Marxista, incorporar os objectos da natureza dentro das relações sociais determinadas pela estrutura de classe dominante naquele ponto da história. Consequentemente, o artista criativo ou o cientista é como um vaso, tal como Ion o rapsodo, tal como ele mesmo se descreveu a Sócrates, ou como o actual proponente da  "teoria do caos"; a arte criativa emerge da miscelânea que é a cultura como que por magia. Quanto mais o homem burguês tenta transmitir o que ele tenciona sobre um objecto, menos verídico ele se torna; ou, tal como numa das mais citadas declarações de Benjamim, "A verdade é a morte da intenção".

Este gesto prestidigitador permite que qualquer pessoa faça várias coisas destrutivas. Ao fazermos da criatividade algo específico duma determinada era histórica, rouba-mo-la tanto a imortalidade como a moralidade. Não se pode lançar como hipótese uma verdade universal, ou uma lei natural, visto que a verdade é totalmente dependente do desenvolvimento histórico. Ao abandonar a ideia da verdade e do erro, podemos também lançar fora o "obsoleto" conceito do bem e do mal: passas a estar, nas palavras de Friedrich Nietzsche, "para além o bem e o mal."

Benjamim foi capaz, por exemplo, de defender o que ele chama de "Satanismo" do Simbolistas Franceses e dos seus sucessores Realistas, visto que no centro deste Satanismo "encontramos o culto ao mal como um engenho político . . . para nos desinfectar e nos isolar de todo o diletantismo moralizante" da burguesia. Condenar o Satanismo de Rimbaud e qualificá-lo de maligno é o mesmo que exaltar um quarteto de Beethoven ou um poema de Schiller e qualificá-los de bons visto que ambos os julgamentos são cegos às forças históricas a operarem inconscientemente no artista.

Portanto, é-nos dito, a estrutura de cordas de Beethoven esforçava-se para ser atonal, mas Beethoven não conseguiu conscientemente libertar-se do mundo estrutural da Europa do Congresso de Viena (tese de Adorno); semelhantemente, o que Schiller realmente queria era declarar que a criatividade é a libertação do erótico, mas como uma verdadeira criança do Iluminismo e de Immanuel Kant, ele não poderia fazer a necessária renúncia da razão (tese de Marcuse).

A epistemologia torna-se num parente pobre da opinião pública visto que o artista não cria conscientemente obras como formar de elevar a sociedade, mas sim transmite inconscientemente as suposições ideológicas da cultura onde nasceu. O ponto fulcral já não é o que é universalmente verdadeiro, mas sim o que pode ser plausivelmente interpretado pelo auto-nomeados guardiões do Zeitgeist.

"Os Maus Novos Dias"


Portanto, para a Escola de Frankfurt, o objectivo da elite cultural da moderna era "capitalista", tem que ser o de remover a crença de que a arte deriva da auto-consciente emulação de Deus o Criador; tem que ser demonstrado que a "inspiração religiosa", afirma Benjamim, "reside numa inspiração profana, uma inspiração materialista antropológica para a qual o haxixe, o ópio, ou o que quer que seja, podem dar uma aula introdutória." Ao mesmo tempo, novas formas culturais têm que ser encontradas como forma de aumentar a alienação da população de modo a que ela entenda o quão realmente alienante é viver sem o socialismo. "Não edifiquem sobre os bons dias de outrora, mas sim nos novos maus dias", afirmou Benjamim.

O rumo certo da pintura, portanto, é aquele enveredado pelo falecido Van Gogh, que começou a pintar objectos em desintegração, o que era equivalente à visão do fumador de haxixe que "frouxa e seduz as coisas para fora do seu mundo familiar". Na música, "não é sugerido que alguém pode compor melhor nos dias de hoje", melhor que Mozart ou Beethoven, disse Adorno, mas é preciso compor de um modo atonalista visto que o atonalismo é doentio, e "de um modo dialético, a doença é ao mesmo tempo a cura.... A extraordinariamente violenta reacção de protesto com a qual tal música se depara na sociedade presente ... parece, no entanto, sugerir que a função dialéctica desta música já se pode sentir ... negativamente como 'destruição'".

O propósito da arte moderna, da literatura, e da música é o de destruir o potencial edificante - e desde logo, burguês - da arte, da literatura e da música, de modo a que o homem, despojado de sua conexão com oDivino, olhe como a sua única opção criativa a revolta política.

Organizar o pessimismo nada mais é que remover a metáfora moral da política e descobrir na acção política uma esfera reservada a 100% para as imagens.

E assim, Benjamim colaborou com Brecht para trabalhar estas teorias de modo a dar-lhes aplicação práctica, e o seu esforço conjunto culminou no Verfremdungseffekt ("efeito de distanciamento"), a tentativa de Brecht de escrever a sua peça de modo a causar a audiência a sair do teatro desmoralizada e desorientadamente zangada.

Politicamente Correcto

A análise Adorno-Benjamim representa quase a totalidade da base teorética de todas as tendências estéticas politicamente correctas que actualmente atormentam as nossas universidades. O pós-estruturalismo de Roland Barthes, Michel Foucault, e Jacques Derrida, a Semiótica de Umberto Eco, o Desconstructionismo de Paul DeMan, citam Benjamim abertamente como fonte do seu trabalho.

O best-seller do terrorista Italiano Umberto Eco, O Nome da Rosa, pouco mais é que um hino a Benjamim; DeMan, antigo colaborador Nazi da Bélgica que se tornou num prestigioso professor em Yale, começou a sua carreira traduzindo os trabalhos de Benjamim; a famosa declaração de Barthes de 1968 "o autor está morto" tem como propósito ser uma elaboração da máxima de Benjamim em torno da intenção.

Benjamim chegou a ser chamado de herdeiro de Leibniz e de Wilhelm von Humboldt, o filólogo colaborador de Schiller cujas reformas educacionais produziram o tremendo desenvolvimento da Alemanha durante o século 19. Mesmo recentemente, em Setembro de 1991, o Washington Post referiu-se a Benjamin como o "o melhor teórico literário Alemão do século (e muitos deixariam de fora o qualificador Alemão)".

Certamente que os leitores terão ouvido falar duma ou de outra história de horror em torno da forma como o Departamento dos Estudos Afro-Americano baniu Othello, por ser "racista", ou da forma como uma professora feminista radical deu uma palestra durante uma reunião da "Modern Language Association" onde disse que as bruxas eram as "verdadeiras heroínas" da peça Macbeth. 

Estas atrocidades ocorrem porque os perpetradores são capazes de plausivelmente demonstrar, segundo a tradição de Benjamim e Adorno, que o propósito de Shakespeare é irrelevante, e o que realmente importa é o "subtexto" racista ou falocêntrico do qual Shakespeare não tinha consciência quando escreveu.

Quando o departamento local de Estudos Femininos, ou o Departamento dos Estudos em torno do Terceiro Mundo organiza os estudantes de modo a que eles abandonem os clássicos em favor de autores Negros ou feministas actuais, os motivos dados são inteiramente de autoria de Benjamim. 

Não se dá o caso destes autores Negros ou feministas serem melhores, mas sim que eles são de alguma forma mais genuínos uma vez que a sua prosa alienada melhor reflecte os problemas sociais modernos dos quais os autores mais antigos não sabiam. Os estudantes aprendem que a própria língua, tal como disse Benjamim, nada mais é que uma conglomeração de "nomes" falsos impingida à sociedade pelos seus opressores, e são também avisados contra o "logocêntrismo", a excessiva confiança burguesa nas palavras.

Se estas palhaçadas universitárias parecem ser "retardadas" (usando as palavras de Adorno), é porque elas foram feitas para serem assim. O avanço mais importante da Escola de Frankfurt consiste na realização de que as suas teorias monstruosas se poderiam tornar dominantes na cultura, como resultado das mudanças na sociedade levadas a cabo pelo que Benjamim chamou de "a idade da reprodução mecânica da arte".

Continua na 2ª Parte....



3 comentários:

Os 10 mandamentos do comentador responsável:
1. Não serás excessivamente longo.
2. Não dirás falso testemunho.
3. Não comentarás sem deixar o teu nome.
4. Não blasfemarás porque certamente o editor do blogue não terá por inocente quem blasfemar contra o seu Deus.
5. Não te desviarás do assunto.
6. Não responderás só com links.
7. Não usarás de linguagem PROFANA e GROSSEIRA.
8. Não serás demasiado curioso.
9. Não alegarás o que não podes evidenciar.
10. Não escreverás só em maiúsculas.
-------------
OBS: A moderação dos comentários está activada, portanto se o teu comentário não aparecer logo, é porque ainda não foi aprovado.

ATENÇÃO: Não será aceite comentário algum que não se faça acompanhar com o nome do comentador. ("Unknown" não é nome pessoal).

ShareThis

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

PRINT