quarta-feira, 23 de setembro de 2015

"Ela recebeu os resultados do teste de paternidade há mais de 8 semanas, e tu não és o pai”

Por Drew Vox

Na Primavera de 2002 a minha vida mudou drasticamente. A minha mãe havia estado a batalhar contra o cancro há quase um ano, e em Maio de 2002 ela perdeu a batalha. Embora o meu pai não tenha estado totalmente ausente, eu diria que a minha mãe foi a maior responsável por me educar e educar o meu irmão.

Ela era a "mãe fixe" da vizinhança e era também uma das minhas maiores amigas. Era comum os meus amigos virem passar algum tempo comigo e acabarem por ficar na sala ou na cozinha a conversar com a minha mãe. Por essa altura eu pensei que perder a minha mãe aos 22 anos era a dor mais profunda que eu poderia alguma vez experimentar.

Eu estava errado.

Por altura em que a minha mãe foi diagnosticada, eu já estava a namorar com uma rapariga (vamos-lhe chamar de "Liz") há dois anos. Ela era tudo o que eu poderia querer numa mulher: tinha sentido de humor, era encantadora e generosa. Ela era também muito bonita e parecia ser honesta. Crescemos na mesma área e claro que conhecíamos a família um do outro. Eu não tinha dúvidas nenhumas que ela era tudo aquilo que eu queria numa parceira. Olhando para trás, tenho a sensação de que eu buscava estabilidade na minha vida, dado tudo que eu havia sofrido.

Poucos depois da minha mãe ter morrido, foi-me oferecida uma posição no departamento de Tecnologia de Informação num centro de distribuição localizado no Sul da Flórida. Isto deu-me a chance de avançar com a minha carreira bem como uma oportunidade de (tentar) avançar para além da minha dor.


Falei a hipótese de mudança com a Liz, e tomamos a decisão e tentar fazer com que a relação funcione à distância. Tomei também a decisão de lhe pedir em casamento logo na minha primeira visita e pedir-lhe que ela viesse viver comigo na Flórida. Foi isso que fiz, ela aceitou, e duas semanas mais tarde ela estava comigo na Flórida permanentemente.

Tudo correu bem durante dois meses, até ao momento em que recebi a notícia que mudou a minha vida de que ela estava grávida. Depois de muita deliberação, concordamos que seria melhor para nós (e para a criança ainda por nascer) voltar para o nosso estado para vivermos perto das nossas famílias. Afinal de contas, estávamos à beira de sermos pais jovens, e queríamos um sistema de apoio.

Também tomamos a decisão de adiar o casamento até o nascimento da criança. 

No final de 2002 mudamo-nos de volta para o nosso estado e em Abril de 2003 o nosso filho nasceu. A minha família ficou extática com o primeiro neto, e tal como todas as famílias, fez do pequeno rapaz o centro do seu universo. A Liz e eu raramente discutíamos e estávamos extremamente felizes com a nossa pequena família.

Tudo isto mudou no dia em que ela disse que já não me amava. Isto apanhou-me totalmente de surpresa e por mais que eu lhe tentasse convencer a reconsiderar as coisas, ela recusou. Continuei a pagar o nosso apartamento de modo a que ela e o nosso filho tivessem um lugar para viver, e passei a viver no sofá dum amigo. Numa das semanas que se seguiram consegui encontrar um apartamento para mim, e continuei a ver o meu filho durante os fins de semana.

No preciso momento em que me adaptava à minha nova vida, o golpe que se seguiu (o mais fatal de todos) foi lançado contra mim. A Liz ligou-me uma noite e disse-me que tinha algo de importante para falar comigo. Fiz planos para ir à casa ela no dia seguinte de modo a que pudéssemos falar. Eu ainda estava cego por mor e como tal, não tinha ideia nenhuma do que estava para acontecer.

No dia seguinte, enquanto conduzia para a casa da Liz, o meu telemóvel tocou. Era a minha tia Debbie, a mesma que havia assumido o papel maternal depois da morte da minha mãe.

“Drew, estás a caminho de falar com a Liz?” perguntou ela.

“Sim.......porquê?” respondi eu.

“Diz à Liz que falei com a mãe dela, e que eu sei da verdade.....e que ACHO BEM que ela te diga a verdade.”

Eu sei que por esta altura da história parece que eu estou totalmente alheio, mas eu honestamente não sabia o que estava a acontecer. Sentei-me para falar com a Liz, e ela procedeu dizendo que me havia traído antes de se mudar para a Flórida, e que havia a chance do filho não ser meu.

Embora eu tivesse motivos para estar preocupado, eu não estava. Afinal, o nosso filho parecia-se comigo e já me chamava de "papá". Não havia a mínima possibilidade dele não ser meu filho.

À medida que eu estava ali sentado a brincar com a criança, o telefone da Liz tocou. À medida que ela se levantava para atender o telefone, o meu telefone começou também a toar. Atendi e era a minha tia Debbie.

“Drew, falaste com a Liz?” perguntou ela.

“Falei. Ela disse que me traiu antes de ir para a Flórida e que há possibilidade do nosso filho não ser meu.”

Houve um silêncio do outro lado. De facto, houve demasiado silêncio. Hoje, olhando para trás, acho que sabia o que estava para vir a seguir.

“Drew…” respondeu ela. “A Liz está a mentir. Ela recebeu os resultados do teste de paternidade há mais de 8 semanas, e tu não és o pai.”

É difícil imaginar como duas pequenas frases podem destruir por completo o teu mundo, mas foi isso que aconteceu. O meu queixo caiu e eu deixei cair o telefone à medida que o meu filho estava a subir a minha perna e a dizer "papá", pedindo que eu o tomasse ao colo. Peguei-o ao colo e agarrei-o o mais próximo que pude de mim, e chorei.

Os três meses que se seguiram foram os piores da minha vida. Até esse ponto eu não tinha a certeza se acreditava que a depressão era algo real. Tal como aprendi, é real. Vou-me afastar por alguns instantes da minha história, e dizer a todas as pessoas que enfrentam depressão para, por favor, buscarem ajuda o mais rapidamente possível. A depressão é real e pode ser perigosa. Eu senti-me abandonado, enganado e totalmente destruído.

Por todo o sítio onde ia era seguido por uma nuvem negra de desespero. Eu chorava e soluçava durante o dia todo. Tinha um pesadelo recorrente onde eu estava a dirigir tendo ao lado o meu filho, e chocava numa árvore. Eu era ejectado do veículo e o mesmo ficava envolvido em chamas. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia tirar o meu filho do veículo. Tudo o que eu podia fazer era assistir ele a ser queimado até à morte.

Por diversas vezes contemplei o suicídio, chegando até a amarrar uma corda à volta do meu pescoço e a ficar de pé sobre uma cadeira. Não sei bem porquê, mas posso dizer que estive próximo de não estar aqui hoje, a contar a minha história.

Os meus pais e membros familiares obviamente também que ficaram perturbados e naturalmente tiveram que retirar das paredes, e efectivamente apagar das nossas vidas, uma pequena pessoa maravilhosa. Em termos prácticos, o meu filho havia morrido. Eu perdi-o. Os meus pais perderam um neto.

Depois de 3 meses de depressão severa, a minha tristeza transformou-se em raiva. Ela era culpada de tudo, aquela vadia! E assim começou a minha busca por um advogado, embora eu não soubesse bem o que chamar a isto. Mas certamente que o que ela fez tinha que ser ilegal de alguma forma, certo?

Claro que não há recursos disponíveis para homens na minha posição, e como tal, comecei a ligar aleatoriamente para advogados e a explicar minha história. A minha elaboração em relação ao potencial de receber justiça rapidamente se transformou em desespero à medida que advogado atrás de advogado me foi dizendo que não estava interessado no meu caso. Não é ilegal, disseram-me eles. Não há caso legal estabelecido para este tipo de coisas no nosso estado.

Depois de ter ligado para todos os advogados das páginas amarelas, desisti e segui com a minha vida. Três meses mais tarde recebi uma chamada dum número que não conhecia. Atendi e o homem do outro lado apresentou-se e disse-me que havia ouvido o meu caso da boca dum colega seu. Embora ele nunca tivesse lidado com um caso como o meu, ele já havia lidado com casos semelhantes num estado próximo, e a sua licença permitia que ele exercesse advocacia no meu estado.

Ele simpatizou com a minha situação e disponibilizou-se a tomar conta do caso numa base de contingência.  Contratei-o imediatamente e ele disse-me que o que a Liz havia feito era, na verdade, fraude. Aparentemente há dois tipos de fraude:

1) Fazer uma declaração como se fosse verdadeira embora tu saibas que é falsa. (Por exemplo: vender um carro a outra pessoa depois de lhes teres dito que colocaste um motor novo, quando na verdade o motor já fez 150,000 milhas.)

e

2) Fazer uma declaração como se fosse verdadeira embora tu não saibas se é ou não verdadeira. (Ex: Dizer a um homem que ele é o pai da criança quando na verdade não sabes se ele é ou não pai da criança).

Durante as deposições, a sua defesa essencialmente foi que ela se embebedou durante uma festa, teve sexo com uma pessoa, mas que não se lembrava de nada. (Embora todas as suas amigas soubessem que ela sabia, nenhuma destas amigas teve o pensamento de me dizer que se calhar o filho não era meu.)

O que fazia deste argumento particularmente interessante é que, por essa altura, ela estava casada com o homem com quem ela me havia traído, e ela estava grávida de outro filho. Portando, ela estava a dizer que "Eu estava bêbada e nunca cheguei a consentir e nem sequer me lembro do sexo", mas no entanto ela casou-se com o homem que, segundo a declaração dela, a havia violado.

Durante os dois anos que se seguiram o advogado dela arrastou o caso usando todo o tipo de tácticas legais. Por essa altura eu havia voltado a casar e este caso estava a começar a causar problemas no meu casamento. Embora a minha, agora, ex-esposa me tenha apoiado durante o processo, ela sentiu que havia chegado a altura de cortar a ligação e seguir com a vida.

O meu caso acabou numa mediação e o meu advogado sugeriu que eu aceitasse um acordo; e foi isso que fiz.

A minha experiência foi horrível e nenhum homem deveria passar pelo que passei. Embora tenha sido bom que eu a tenha perseguido pelo que ela me fez, deixem-me deixar algo bem claro: a fraude na paternidade deveria ser uma ofensa criminal, e um crime doloso.

Decidi partilhar a minha história na esperança de que ela possa ajudar outra pessoa na minha posição. Pode ser que ela lhes dê forças para lutar, ou talvez lhes dê forças para seguir com a sua vida.

Título original: "The ultimate lie" - http://bit.ly/1P2acPj



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