segunda-feira, 27 de abril de 2020

Os mistérios da Casa de Elvas

Testemunhas que condenaram Carlos Cruz não foram consideradas credíveis em relação a Paulo Pedroso.

As duas vítimas cujos depoimentos foram fundamentais para condenar Carlos Cruz por três crimes de abusos sexuais de menores foram consideradas como não credíveis quando acusaram Paulo Pedroso pelos mesmos actos na casa de Elvas. Foi à volta desta habitação que grande parte do processo da Casa Pia girou. Mas, no final do julgamento, a juíza Ana Peres admitiu que o tribunal não conseguiu perceber "para lá da dúvida razoável" o que se terá passado lá.

De acordo com o resumo do acórdão do processo da Casa Pia, que ontem foi disponibilizado aos jornalistas, Carlos Cruz foi condenado por abusos sexuais em relação a duas vítimas: L. M. e L. N. Os abusos, considerados provados sobre a primeira vítima, dizem respeito a uma casa na Avenida das Forças Armadas, em Lisboa. Quanto ao segundo jovem, o tribunal deu como provado que o ex- -apresentador abusou sexualmente dele na casa de Elvas, propriedade de Gertrudes Nunes, única arguida absolvida de todos os crimes.

A convicção do tribunal alicerçou-se nos depoimentos dos dois jovens. Porém, na fase anterior ao julgamento, ambos foram ouvidos pela juíza de instrução, Ana Teixeira e Silva, que não valorizou da mesma forma os seus depoimentos em relação ao então arguido Paulo Pedroso. A testemunha L. N. também acusou Paulo Pedroso de abusos sexuais, precisamente, na casa de Elvas.

Perante isto, Ricardo Sá Fernandes, advogado de Carlos Cruz, referiu apenas: "Foram considerados como não credíveis na instrução e no recurso da decisão de não pronúncia. O que só quer dizer que não são credíveis." Nem para um nem para outro. E Cruz diz ter já feito "esta análise há muito tempo". "Há juízes que fazem leituras e interpretações diferentes das declarações dos jovens", disse ao DN.

Tem havido confusão quanto à credibilidade dos depoimentos dos jovens: em instrução, a juíza afirmou ter a "forte convicção de que os ofendidos se enganaram" na identificação de Paulo Pedroso. Nos dois processos de difamação que o ex-deputado do PS avançou contra os jovens pelos crimes de difamação, não se provou que as testemunhas mentiram.

Recentemente, outros juízes do Tribunal da Relação de Lisboa - apreciando o processo de Paulo Pedroso contra o Estado por prisão ilegal - também não consideraram como não credíveis os depoimentos dos jovens. Sobre um dos depoimentos, os desembargadores escreveram: "A consistência indiciária do conjunto do depoimento não ficou diminuída com uma ou outra incoerência, que poderá ter resultado da dificuldade em depor em matéria de especial melindre pessoal." 

Hugo Marçal em Elvas

A casa de Elvas acabou por deixar de ser o centro do processo. Dos vários crimes de abuso sexual imputados aos arguidos que terão ocorrido na casa de Gertrudes Nunes, o tribunal só deu como provados factos relativos a Carlos Cruz (abuso sexual) e a Hugo Marçal (um de abuso sexual e dois de lenocínio).

A dona da casa, Gertrudes Nunes, foi absolvida, mas por uma questão legal: não ficou provado que tivesse conhecimento de que os encontros sexuais decorriam a troco de dinheiro.

Ainda sexta-feira, Carlos Cruz revelou no seu site (www.processocarloscruz.com) vídeos sobre o reconhecimento feito pelos jovens à casa de Elvas. O ex-apresentador questiona se os mesmos alguma vez entraram lá.

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quinta-feira, 23 de abril de 2020

As origens socialistas do fascismo

Uma das falácias mais persistentes é a alegação de que o Fascismo é uma doutrina capitalista, ignorando seus actos e influências. 

O fascismo além de aliado do nazismo, possui os mesmos princípios e origens, embora com certas diferenças. Em semelhança com o nazismo, o fascismo nada mais representa que outro filho bastardo do socialismo e do sindicalismo. Tais factos são narrados ao longo da história política de Benito Mussolini. 

Desde o início da sua carreira que Mussolini rapidamente se inclinou para as ideologias de massas, filiando-se ao Partido Socialista com apenas 17 anos. Em 1902, tentando fugir do serviço militar, emigrou para a Suíça, onde conheceu alguns políticos russos vivendo no exílio (incluindo os marxistas Angelica Balabonoff e Vladimir Lênin).

Mussolini tornou-se um activo membro do movimento socialista italiano na Suíça, trabalhando para o jornal L’Avvenire del Lavoratore, organizando encontros, discursando para os trabalhadores, além de actuar como secretário da união dos trabalhadores italianos em Lausanne. Mas em 1903, foi preso pela polícia bernense e deportado para a Itália.

Ao retornar a Itália já estava renomado e destacava-se como um dos mais activos socialistas italianos. Em 1910 retorna a sua cidade natal e passa a editar o jornal semanal Lotta di classe (A Luta de Classe). Neste período, publicou Il Trentino veduto da un Socialista (O Trentino visto por um Socialista). 

Em 1911 Mussolini participou num motim (liderado por activistas socialistas) contra a guerra italiana na Líbia. Ele denunciou-a como uma guerra imperialista com o propósito de capturar a capital Líbia Tripoli, mas isso custu-lhe 5 meses da vida ne prisão. 

Um ano depois Mussolini ajudou a expulsar do partido dois revisionistas socialistas que haviam apoiado a guerra: Ivanoe Bonomi e Leonida Bissolati. Como resultado ganhou o cargo de editor do jornal do Partido Socialista Italiano o "Avanti!", que sob a sua liderança viu a sua circulação aumentar de 20,000 para 100,000 cópias. Como redactor do jornal ficou famoso por seu discurso anticapitalista. Em seus textos Mussolini atacava severamente as economias liberais.

Com o passor dos anos, o Partido Socialista Italiano decidiu não se opor ao governo liderado por cinco vezes pelo Primeiro Ministro Giovanni Giolitti. Coligados com o governo, o PSI elevara sua influencia eleitoral. 

Entretanto, o partido permanecia dividido entre dois grupos: os Reformistas liderados por Felippo Turati e que exerciam forte influencia junto dos sindicatos, e os Maximalistas, liderados por Constantino Lazzari, que eram afiliados ao “London Bureau”, uma associação internacional de partidos socialistas. 

Para resolver o impasse interno, Mussolini liderou o grupo dos Maximalistas em uma convecção do PSI, o que levou a uma cisão interna e que forçou os reformistas a fundar o Partido Socialista Reformador Italiano. 

Em 1919 Mussolini fundou os Fasci Italiani di Combatimento, organização que daria origem ao Partido Fascista. Com base em suas perspectivas políticas de carácter socialista, consegiu milhares de afiliados. Não obstante, Mussolini criou o própria ideologia a partir de suas antigas influencias, e tal como elas, o fascismo exigia um imposto progressivo, a formação de cooperativas e um ambiente onde partidos, associações, sindicatos, classes seriam um só corpo.

Na Enciclopédia Italiana de 1931, escrita por Giovanni Gentile e Benito Mussolini, o fascismo é descrito como uma doutrina cujo “fundamento é a concepção do Estado, da sua essência, das suas competências, da sua finalidade. Para o fascismo o Estado é um absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o relativo. Indivíduos e grupos são “pensáveis” enquanto estejam no Estado”. 

A doutrinas fascista era de cunho colectivista e previa controle da economia e a estatização; portanto não eram diferentes de qualquer outra forma de socialismo. 

Embora o ditador se tivesse distanciado do socialismo de reformas gradativas para um socialismo violento e revolucionário (aos moldes do comunismo a qual se opunha), não ignorava suas origens. 

Em 1932, identifica “no grande rio do fascismo”, as correntes que nele vão desaguar, e que terão as suas fontes em Georges Sorel, Charles Peguy, Hubert Lagardelle do Movimento Socialista, e nos sindicalistas italianos Angelo Oliviero Olivetti da Pagine Libere, Orano de a Lupa, o Enrico Leone do Divenire Sociale e que segundo ele, haviam trazido entre 1904 e 1914, o novo tom ao ambiente do socialismo italiano.

Mussolini não tinha meios nem a necessidade de esconder suas origens socialistas, e embora fosse anticomunista, seu sistema é bem parecido como o modelo stalinista através da reengenharia social, controle da produção, consumo, preços, salários, aluguéis, mídia, comunicação, campos de confinamento de prisioneiros, extermínio em massa, coerção militar, imperialismo e liderança absoluta.

Tal como no comunismo de Stalin, o Fascismo e o Nazismo eram estatólatras (culto ao chefe de Estado) e contrários as liberdades individuais. Eram opositores da democracia e do liberalismo. O fascismo, assim como toda doutrina socialista, visa reformar o homem, controlar seus hábitos através de uma liderança populista e demagoga. 

Com um linguajar forte e que supostamente resolveria todos os problemas, Mussolini  tornara-se um dos maiores tiranos da história. Para muitos estudiosos da época, Mussolini não era apenas um simples redcator que se tornara um soberano, mas o Lênin italiano - o líder de uma facção revolucionaria que visava destruir o capitalismo de livre mercado.

Referências:
Jonah Goldberg  – Fascismo de Esquerda
Gerald Leinwand – The Pageant of World History
Margherita G. Sarfatti – The Life of Benito Mussolini
Charles F. Delzel, Harper Rowe – Mediterranean Fascism
Brenda Haugen – Benito Mussolini
Modern Leftism as Recycled Fascism

~ Christiano Di Paulla - Modificado a partir do original: https://bit.ly/2VOqtDC
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sexta-feira, 17 de abril de 2020

China escondeu gravidade do surto do novo coronavírus durante seis dias

Associated Press teve acesso a documentos internos que provam que regime chinês já tinha noção da gravidade do surto em Wuhan, mas durante seis dias manteve esses dados secretos.

As autoridades chinesas demoraram seis dias a tornar pública a dimensão e o risco representado pelo surto inicial do novo coronavírus em Wuhan, uma atitude que pode ter comprometido a resposta inicial à epidemia. A informação está confirmada em documentos internos a que a Associated Press (AP) teve acesso, através de uma fonte médica não identificada, e que foi publicada esta quarta-feira.

A 14 de janeiro, o diretor da Comissão Nacional chinesa de Saúde, Ma Xiaowei, fez uma teleconferência com vários responsáveis de saúde do país, onde afirmou que “a situação epidémica é grave e complexa, é o desafio mais sério desde a SARS em 2003 e é provável que se torne numa grande questão de saúde pública”. A AP confirmou esta informação não apenas através dos documentos, mas também junto de duas fontes que estiveram presentes na teleconferência. Os documentos indicam que a avaliação de Ma Xiaowei foi transmitida para dar instruções vindas diretamente da cúpula do governo: do Presidente Xi Jinping, do primeiro-ministro Li Kequiang e do vice-primeiro-ministro Sun Chunlan.

Os responsáveis políticos só viriam a pronunciar-se publicamente sobre a situação a 20 de janeiro, numa declaração pública de Xi Jinping. Ao longo desses seis dias, mais de três mil pessoas terão sido infetadas na China.

A resposta ao novo coronavírus só começou a avançar a 14 de janeiro, depois de se ter detetado o primeiro caso fora da China, a 13 de janeiro, na Tailândia. De acordo com a AP, os documentos — marcados com indicações como “interno”, “não é para ser espalhado na internet” ou “não é para divulgação pública” — mostram que o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de Pequim iniciou então um plano nacional com equipas de trabalho para “obter fundos, formar profissionais de saúde, reunir dados, conduzir investigações no terreno e supervisionar laboratórios”, de acordo com os documentos. À província de Hubei, onde fica Wuhan, foi recomendado que começassem a ser feitos controlos de temperaturas em aeroportos e estações de comboio e autocarro — mas tal informação não foi tornada pública de imediato.

A Comissão Nacional de Saúde também distribuiu instruções aos responsáveis de saúde nas províncias para que se começassem a identificar casos suspeitos e para que fosse fornecido equipamento de proteção individual aos profissionais de saúde. “Toda a gente que trabalha na área das doenças infecciosas no país sabia que se passava algo”, resumiu à AP uma especialista chinesa que preferiu não ser identificada. Oficialmente, Pequim continuava a afirmar que o vírus não era preocupante e assumia apenas a existência de 41 casos diagnosticados na China.

As reações a estas notícias são variadas. Zuo-Feng Zhang, epidemiologista da Universidade da Califórnia, considera que esta é uma informação “tremenda”. “Se eles tivessem tomado medidas seis dias mais cedo, haveria menos pacientes e as instalações médicas poderiam ter aguentado. Podia ter sido evitado o colapso do sistema de saúde de Wuhan”, afirmou à agência.

Ray Yip, antigo fundador da delegação do Centro de Controlo de Doenças norte-americano na China, discorda. “Eles podem não ter dito a coisa certa, mas fizeram a coisa certa”, afirma. “Fizeram soar os alarmes em todo o país no dia 20, o que é um atraso razoável”.

A República Popular da China recusa qualquer acusação de que tenha escondido qualquer tipo de informação: “As alegações de um encobrimento ou de falta de transparência na China são infundadas”, declarou o porta-voz dos Negócios Estrangeiros na passada quinta-feira.

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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Taiwan alertou OMS da propagação do coronavírus em Dezembro

País alertava na altura para pelo menos sete casos de pneumonia atípica registados em Wuhan.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) está a ser duramente criticada após Taiwan ter divulgado o conteúdo de um e-mail que enviou para a entidade em Dezembro de 2019. Neste e-mail, a OMS era questionada sobre a propagação do coronavírus de pessoas para pessoa.

De acordo com a Fox News, este e-mail foi ignorado pela OMS, que negou ainda divulgar informações necessárias para combater a Covid-19.

Taiwan acusa agora a OMS de subestimar a gravidade da situação e a propagação do novo coronavírus, mesmo depois de ter sido alertada por Taiwan de pelo menos sete casos de pneumonia atípica registados em Wuhan, cidade chinesa onde o vírus surgiu, em Dezembro.

Segundo a mesma publicação, no e-mail enviado a 31 de Dezembro, o Centro de Taiwan de Controlo e Prevenção de Doenças questionou a China sobre os casos anteriormente mencionados. Sobre estes, as autoridades de saúde terão dito que os mesmos não se tratavam de casos positivos de Covid-19, no entanto, foi referido que as amostras das análises estavam ainda a ser examinadas e os casos tinham sido isolados.

A OMS já negou que Taiwan tenha lançado o alertado para a possível disseminação de vírus de pessoa para pessoa. No entanto, Taiwan reforça que no e-mail enviado à organização foram referidos especificamente os casos de pneumonia atípica, que é transmitida através do contacto humano.

Taiwan dá ainda a saber que a OMS e o Centro de Controlo de Doenças chinês se recusaram a fornecer informações adequadas que poderiam o Governoa para o impacto do vírus mais cedo.


Estas tensões entre Taiwan e a OMS já levaram o presidente dos EUA, Donald Trump, a considerar a suspensão da doação de fundos à organização por discordar da política de comunicação daquela agência da Organização das Nações Unidas.

Fonte: https://bit.ly/2XBFGKT
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sábado, 11 de abril de 2020

Repensar a China


“Seremos forçados a rever os nossos relacionamentos”.            

Esta é a intimidação dirigida pelo presidente chinês, Xi Jinping, a Donald Trump, obstinado em chamar “vírus chinês” ao COVID-19. E o exuberante presidente dos Estados Unidos da América, líder da maior potência económica e militar da história, teve que se submeter: através do adjectivo “chinês”... 

Pouco antes, a baixar a cabeça foi o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, culpado de ter dito que o coronavírus provinha da China. Não se podia dar ao luxo de perder o mercado chinês. Antes dele, e pela mesma razão, o presidente argentino, Alberto Fernández, teve que bloquear uma investigação sobre acordos secretos com a China assinados pelo governo anterior. A lista poderia continuar.   

E não falaremos sobre os nossos exaustos governantes europeus: nem se atrevem a suscitar a questão...     

Ao exercer a sua supremacia económica com uma arrogância surreal, a China está a permitir-se reescrever a história à sua maneira. Com chantagem e propaganda, conseguiu passar de criminosa a heroína em poucas semanas. A epidemia do coronavírus começou precisamente na China e espalhou-se graças à negligência e à prepotência do governo comunista de Pequim, como já denunciaram tantos especialistas. Apesar disso, a China, hoje, apresenta-se como modelo e até mesmo como samaritana, impondo a sua linha a um Ocidente triste e subjugado.            

Um dos grandes enigmas da nossa época – um verdadeiro mistério da iniquidade – é como o Ocidente, que se orgulha do seu carácter democrático e liberal, foi capaz de se submeter tão servilmente a um governo ditatorial dominado por um Partido Comunista. E como os magnatas da indústria e das finanças, que se gabavam de ter criado a civilização mais rica da história, deixaram que a riqueza – a par do poder que essa comporta – passasse para as mãos de uma potência inimiga. Para ganhar mais dinheiro, o Ocidente colocou – consciente e voluntariamente – a cabeça na guilhotina. Pode agora admirar-se que o carrasco puxe a alavanca?     

Uma voz profética                   

Ainda assim, esta situação era perfeitamente previsível e, portanto, evitável. É uma consequência da política cega e suicida do Ocidente em relação ao comunismo chinês, contra a qual, nos anos trinta do século passado, se elevou a voz de Plinio Corrêa de Oliveira.  

No longínquo ano 1937, o líder católico denunciava como os Estados Unidos estavam a subitamente armar os comunistas chineses, junto com os soviéticos:
«O Departamento de Estado anuncia que as licenças de exportação de armas e material de guerra para a China, durante o mês de Novembro, atingiram um total de 1.702.970 dólares. Para a URSS, as licenças de exportação de material bélico alcançaram a soma de 805.612 dólares. […] Não compreendemos como os Estados Unidos vendem armas aos comunistas, isto é, aos mais perigosos e abomináveis inimigos da civilização».         
Em 1943, quando a derrota do nazismo era apenas uma questão de tempo, Plinio Corrêa de Oliveira apontou para os futuros inimigos: o comunismo e o islamismo. O seu olhar profético, no entanto, foi além: «O perigo muçulmano é imenso e o Ocidente parece não se aperceber, como também parece fechar os olhos diante do perigo amarelo».    

No pós-guerra, o Ocidente continuou a ignorar tal perigo, deixando que o comunismo dominasse a China. Duas facções competiam por aquele imenso território: o Kuomintang, de orientação nacionalista, liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tsé-Tung. Este último era apoiado pela União Soviética. Em 1945, Plinio Corrêa de Oliveira denunciou a interferência da URSS na China: 
«Se alguma dúvida pudesse haver sobre a insinceridade de propósitos da União Soviética, ela não resistiria ao que acaba de se ver na China. Em detrimento de tudo quanto prometeram no último tratado de paz firmado com Chiang Kai-shek, reacenderam a guerra civil na China. […] Convém acentuar a gravidade internacional desta agressão. […] Esta atitude da Rússia constitui um novo choque contra a pacificação do mundo. Não podemos deixar de acentuar até que ponto o Partido Comunista seja um joguete do imperialismo russo, que dele se serve com a mais desabrida desfaçatez para obter os seus objectivos internacionais».           
Segundo Plinio Corrêa de Oliveira, a única política coerente teria sido derrotar os comunistas, sem se e sem mas. Em vez disso, para não incomodar a União Soviética, os Estados Unidos adoptaram uma abordagem diferente, que mais tarde se demonstraria desastrosa: 
«A política americana na China visa forçar a unificação por meio de um governo de coligação democrática entre Kuomintang e comunistas. Mas nunca poderá haver uma verdadeira coligação entre o Kuomintang e os comunistas. O objectivo dos comunistas não é tornar a China uma nação democrática unificada, mas fazer dela uma província sob o jugo do totalitarismo comunista. Portanto, é necessário ajudar Chiang a estender a soberania do governo central sobre toda a China, coisa que só se poderá fazer destruindo a soberania do governo rebelde comunista e liquidando os seus atributos de poder independente, exército, polícia, administração política, sistema financeiro».     
Com o apoio dos soviéticos, que também ocuparam a Manchúria, em 1949 Mao Tsé-Tung derrotou definitivamente Chiang Kai-shek e estabeleceu a República Popular da China, iniciando, assim, a expansão para o Tibete e o sudeste asiático. Enquanto isso, revelando uma assustadora imprevidência, o Ocidente deixou a Coreia do Norte nas mãos dos comunistas, uma atitude que teve consequências catastróficas. Em meados de Junho de 1950, apoiados pela China e pela URSS, os comunistas invadiram o sul, dando início à Guerra da Coreia. 

Depois de um momento de perplexidade, o general Douglas MacArthur, comandante das forças aliadas, compreendeu que a guerra não se estava a travar em Pyongyang, mas em Pequim e Moscovo, e propôs um “full-scale conflict against the communists”, uma guerra total contra os comunistas, que incluía o bombardeamento das bases comunistas na China. Foi sumariamente demitido pelo presidente Harry Truman, que escolheu a via da cedência e do compromisso.   

Num longo artigo publicado em Janeiro de 1951, Plinio Corrêa de Oliveira elencou “Os erros de Roosevelt na Segunda Guerra Mundial”, entre os quais: «Diante das primeiras e intempestivas manifestações do expansionismo soviético, o Departamento de Estado norte-americano, em lugar de opor uma resistência enérgica, favoreceu-as indirectamente com a sua atitude passiva. […] Na Ásia, as coisas correram pior. O Presidente Truman decidiu continuar a política de confiar no comunismo como fizera o seu predecessor. […] Por outras palavras, a sorte do Extremo Oriente estava selada».   

Nos anos sessenta, a URSS e a China começaram uma encenação simulando uma ruptura para despistar o Ocidente. Plinio Corrêa de Oliveira nunca acreditou em tal manobra. Escreveu em 1963: «Trata-se apenas de uma armadilha que acabará por engolir o homem ocidental, idiota e sorridente, superficial, agitado e fraco, que vive no mundo das aparências. [...] Os comunistas ficarão muito gratos por esta extraordinária imprudência dos ocidentais». E em 1967: «A divisão entre a “linha russa” e a “linha chinesa” não passa de um bluff». Surdo a tais avisos, o Ocidente continuou a política, cega e suicida, de favorecer a China numa chave anti-soviética.         

A “semana que mudou o mundo”         

De fracasso em fracasso, chegou-se a uma grande reviravolta: a viagem do presidente Richard Nixon à China, em Fevereiro de 1972, à qual o pensador católico brasileiro atribuiu uma importância histórica. O pretexto era adquirir uma posição dominante na China para poder contrabalançar a União Soviética. Plinio Corrêa de Oliveira considerou-o, em vez, o início do fracasso final. O próprio Nixon definiu a sua viagem como “a semana que mudou o mundo”.  

Conhecida a notícia da viagem, a 17 de Julho de 1971 o líder católico brasileiro deu uma conferência analisando a extensão e, com surpreendente alcance, previu as consequências:                 

– Esta viagem mudará substancialmente a percepção da opinião pública ocidental em relação à China comunista, apresentando-a de um ponto de vista mais amigável: «Cairão as barreiras ideológicas em relação ao comunismo chinês»;    

– A China será admitida nas Nações Unidas, expulsando Taiwan, e, posteriormente, será nomeada membro permanente do Conselho de Segurança, assumindo, assim, o papel de potência mundial; 

– «A Guerra do Vietname será liquidada em espírito de cedência e de traição pelos Estados Unidos. Com a viagem de Nixon à China, os Estados Unidos aceitaram uma enorme humilhação que sugere um fracasso também no Vietname. Na minha opinião, a guerra terminará com a rendição incondicional dos Estados Unidos»;         

– «As potências anti-comunistas do Extremo Oriente serão abandonadas à própria sorte [...] Nixon parece ter a intenção de desmantelar inexoravelmente o sistema anti-comunista no Extremo Oriente. [...] Isto forçará os Países da região a apoiar-se em Pequim e não em Washington»;        

– «Hong Kong entrará em agonia. Acredito que, em breve, a Inglaterra retomará as relações com Pequim e entregará Hong Kong aos chineses». 

No final, Plinio Corrêa de Oliveira perguntou: «Quem pode dizer que a expansão chinesa não continuará?». Obviamente, a sua convicção era que, uma vez iniciada, a expansão amarela não pararia. Especialmente porque os Estados Unidos não tinham apresentado nenhuma condição política ou militar.      

No seguimento da viagem do presidente Nixon, os Estados Unidos assinaram, com a China, a Declaração de Xangai sobre a cooperação entre os dois países. Plinio Corrêa de Oliveira dedicou uma conferência ao Acordo, na qual comentou: «Dada a ingenuidade liberal dos americanos e a astúcia comunista dos chineses, o Acordo terá um resultado muito conveniente para os comunistas. Eles aproveitarão todas as oportunidades para avançar. A partir de agora, as relações entre a China e o Ocidente ocorrerão nesta base: os chineses saberão aproveitar-se, enquanto que os ocidentais não».        

O líder brasileiro acreditava que o Acordo de Xangai era a pior catástrofe política do século XX: «Ialta foi uma grande calamidade de Munique (Pacto Ribbentrop-Molotov). Foi Munique multiplicada por Munique. O Acordo de Xangai é Ialta multiplicada por Ialta! Aonde nos conduzirá? Eu não sei. Mas uma coisa é certa: o Ocidente já perdeu esta guerra».            

É preciso dizer que esta era a linha do Governo americano e, mais concretamente, da Secretaria de Estado. No público, porém, houve consistentes reacções às quais Plinio Corrêa de Oliveira dedicou algumas reuniões e artigos de jornal.          

Depois da morte de Mao Tsé-Tung, em 1976, Deng Xiaoping assumiu o poder, que iniciou a chamada “primavera de Pequim”, a primeira abertura tímida do sistema chinês ao capitalismo, sem nunca renegar a ideologia comunista. Tudo no espírito do Acordo de Xangai. 

O Ocidente começou, por conseguinte, a investir na China. Plinio Corrêa de Oliveira advertiu que o fluxo de ajudas ocidentais daria à China os meios necessários para perseguir os seus objectivos expansionistas: 
«Não poderia a China aspirar ao controlo da Ásia? Extensão territorial, população superabundante, apetite de conquista não lhe faltam. Mas ser-lhe-á necessário, para tão grande cometimento, um potencial industrial e bélico considerável. E o regime comunista não lhe deu nem uma nem outra coisa. A China comunista só poderá desenvolver-se e alçar-se à condição de superpotência imperialista com o concurso de uma nação capitalista de grande importância».                        
Um projeto de dominação imperial                 

Plinio Corrêa de Oliveira morreu em 1995 e, logo, não viu o pleno cumprimento das suas previsões. Hoje podemos dizer com pesar: tudo o que tinha previsto, tornou-se, infelizmente, realidade da pior maneira possível.    

Em 1980, o rendimento per capita da China era inferior ao das nações africanas mais pobres. Hoje, a China produz 50% de todos os bens industriais do mundo. Tudo isto, reitere-se, com o dinheiro e o know-how do Ocidente, repentinamente transferidos para a China seguindo a lógica – aliás, a falta de lógica – do capitalismo selvagem e da globalização. Enquanto os ocidentais enchiam a China de dinheiro e de tecnologia, os chineses seguiam escrupulosamente o que um analista ocidental definia como “sistema bismarckiano”, isto é, um projecto bem definido de dominação imperial.                       
Tal projecto é bem examinado por Michael Pillary, um dos maiores especialistas americanos sobre a China, no seu livro: The Hundred-Year Marathon. Chinas’s secret Strategy to Replace the U.S. as the World Superpower. 

O autor mostra como a política americana de encher a China de dinheiro e de tecnologia, até mesmo militar, na ingénua esperança de que se tornasse um parceiro fiável, provou ser um bumerangue: durante todo este tempo os chineses jogaram com segundas intenções, aproveitando-se da ingenuidade ocidental para adquirir uma posição dominante, que hoje começam a exercer como arma de domínio global.            

Outro livro interessante é o do jornalista britânico Martin Jacques When China Rules the World: The End of the Western World and the Birth of a New Global Order. Baseado em estudos de mercado, projecções geopolíticas e análises históricas, Jacques mostra como – se a tendência actual continuar – a China será a potência hegemónica no século XXI, desclassificando os Estados Unidos e introduzindo uma “nova modernidade” diferente da actual. Segundo Jacques, a China não é um “Estado-Nação”, mas um “Estado-Civilização” com vocação imperial acostumado a exercer um poder indiscutível.           

Repensar a China        

A pandemia do COVID-19, no entanto, parece ter mudado as cartas na mesa.       

São cada vez mais evidentes as responsabilidades da China na pandemia que, actualmente, está a dominar o mundo. Os únicos a negá-lo são os próprios chineses, que também ameaçam com pesadíssimas sanções contra aqueles que ousem afirmar tal obviedade. À medida que a arrogância de Pequim atinge níveis surreais, o Ocidente começa a questionar-se se não seguiu o caminho errado. «A China infecta-nos, compra-nos e agradecemos-lhe», sintetizou a situação Massimo Cacciari. Cresce também um movimento internacional para pedir um “Tribunal de Nuremberga” para apurar as responsabilidades chinesas e, eventualmente, exigir uma compensação.           

As declarações feitas pelo Cardeal Charles Maung Bo, Arcebispo de Yangon, capital de Mianmar, são muito claras: 
«Mas existe um governo que tem a responsabilidade primeira, resultado do que fez e do que deixou de fazer: o governo do Partido Comunista Chinês, em Pequim. Vou ser claro – o responsável é o Partido Comunista Chinês, não o povo da China. O povo chinês é a primeira vítima do vírus e, há muito tempo, tem sido a primeira vítima do seu regime repressivo. Merece a nossa simpatia, a nossa solidariedade e o nosso apoio. Apenas a repressão, as mentiras e a corrupção do PCC devem ser responsabilizadas».           
Precisamente o que Plínio Corrêa de Oliveira afirmara no já distante 1937...

Omito as pesadíssimas responsabilidades do Ostpolitik do Vaticano em relação à China comunista, que andou de mãos dadas com a sul-americana e que, sob o pontificado de Francisco, atingiu excessos alarmantes. Abriria horizontes tão relevantes que mereceriam um tratamento à parte.          

Talvez Deus nos esteja a dizer algo com esta pandemia. Talvez tenha chegado o momento de repensar ab imis fondamentis a nossa estratégia em relação à China comunista. Amanhã será tarde demais.          
Mas para fazer isso é necessário ter coragem. Uma coragem que não virá das nossas forças naturais, sejam elas de natureza política, económica ou cultural. Precisamos da intervenção da graça divina nas almas. 

Questiono-me: diante da imensa tragédia que o nosso mundo hoje vive, abalado até às fundações por esta pandemia, ainda não chegou a hora de clamar ao Céu: Perdão! Perdão! Perdão! Estou certo de que o Céu nos responderá: Penitência! Penitência! Penitência! Conversão! Conversão! Conversão! E, no meio do ruído dos elementos celestiais desencadeados, sentir-se-á uma voz tão doce como um favo de mel dizer: “Coragem, meus filhos! Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.             

Por Julio Loredo ( https://bit.ly/3ehZ2e2 )

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Portugueses e Goa

Descrição de um oficial da União Indiana, um mês depois a invasão de Goa, Damao e Diu. Um thread

"Fomos preparados psicologicamente para esta invasão. Disseram-nos que Portugal exercia grande repressão e castigos bárbaros à população como cortar mãos, pés, narizes orelhas."

"Por isso tornavam necessário esta acção de libertação do jugo bárbaro dos portugueses. Era uma libertação e não invasão. Não temos verificado nada disso. O que vemos são manifestações constantes de simpatia e amizade pelos portugueses por parte da população."

"Esta gente gostava de vocês e notamos relutância e até animosidade pela nossa presença (da União Indiana). Os portugueses marcaram bem a sua presença neste região, os habitantes são diferentes dos nossos, mesmo os mais pobres."

"Na Índia como sabe havia possessões francesas. Não deixaram nada, não modificaram nada. Os próprios ingleses que estiveram dois séculos e tendo marcado sob certos aspectos sociais e militares, o que fizeram foi para benefício e para se sentirem bem eles"

"Os Portugueses não. Trouxeram uma religião, construíram conventos, igrejas e palácios. Meteram se pela população a dentro, modificando regras e comportamentos. Deram a esta gente outra maneira de ser, sentir, de viver... Deram exemplos de devoção, sacrifício, doação."

"Os Portugueses chegaram à Índia no início do séc XVI (na verdade foi no final do séc. XV... ) e em cinquenta anos fizeram de Goa a cidade mais rica e poderosa do Oriente. Com grande benefício da população. A uma distância tão grande, apenas umas centenas de Portugueses... "

"Olhe o que fizeram, as ruínas da Velha Goa são impressionantes! Deram mais do que receberam, certamente e está gente não vai esquecer"

Fonte: "Fim dos Séculos. Goa, Damao e Diu." de António Correia de Lima. Fala da experiência de um médico português que estava em Goa aquando da invasão e esteve 5 meses num campo de concentração. Esta foi uma conversa que ele teve com um dos oficiais indianos.
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