Quando estava à beira de fazer 45 anos, cometi o erro de olhar para o espelho. Não era o espelho da casa de banho; era uma foto minha do tempo em que estava a acabar a universidade. Olhei para aquilo que eu era há 20 anos atrás e comecei a ter uma clara e surpreendente epifania.
Vêr como eu era há 20 anos não foi um momento feliz; foi um momento terrivelmente triste. Foi um momento tão triste que involuntariamente comecei a chorar, algo que já não fazia desde os dias negros do meu divórcio.
Olhei para a foto e cheguei à conclusão que havia desordenado a minha vida por completo. Senti a miséria que é a minha vida em ondas de tristeza, arrependimento, raiva e solidão. Durante quase uma hora, e à medida que olhava para mim mais jovem, chorei.
Tinha 24 anos e tinha um MBA duma excelente instituição. Estava ansiosa por conquistar o mundo. Era bem mais magra. As minhas roupas eram elegantes, quase sexy. Claro que o estilo do cabelo era horrível, mas estávamos nos anos 80, e como tal, tais escolhas têm que ser desculpadas.
Eu vi luminosidade no meu olhar; o brilho da vida, das grandes oportunidades que se abriam à minha frente. O mundo estava à minha disposição e eu estava pronta.
Mas, sem saber bem como, as coisas nunca chegaram a bom termo. A minha vida evoluiu para algo doloroso e complicado. Mas, até ao momento em que olhei para a minha foto de há duas décadas atrás, eu sempre culpei os outros. Eu nunca era responsável pelas más decisões que eu tomava. Normalmente os culpados eram sempre os homens - o meu pai, os meus namorados, o meu marido, o meu patrão ou os meus filhos. Nunca era o resultado de algo que eu tivesse feito.
Quando eu me lamentava junta às minhas amigas, todas elas me suportavam. Elas chegaram até a dar o seu apoio quando eu tive um amante afirmando que o meu marido não me dava a atenção que eu precisava.
Eu lia as revistas femininas e todos os artigos falavam do quão fortes, inteligentes, moralmente justas as mulheres eram - incapazes de tomar más decisões. Pior, eu acreditava que as minhas necessidades - independentemente da sua frivolidade, do número de vezes que eu mudava de opinião, do quão tristes os homens da minha vida ficavam - eram mais importantes que qualquer coisa (maternidade, avanço profissional, casamento feliz, etc).
Odeio o mundo por me ter ensinado estas lições. Lembro-me de me queixar que o meu marido nunca havia crescido, mas à medida que as lágrimas jorravam dos meus olhos, cheguei à conclusão que era eu que nunca havia crescido. Eu nunca tinha aprendido sobre compromisso, confiança, tolerância, amabilidade. Eu simplesmente era complicada.
Agora sei que ser complicada não tem nada a ver com o ser forte e independente. Ser complicada centra-se em ser repelente, desagradável, infeliz e sozinha. Ser uma mulher complicada nada mais é que ser uma princesa mimada que é demasiado egoísta e estúpida para aceitar as alegrias da vida.
Eu havia-me tornado numa princesa gorda, desagradável e de meia-idade apenas e só porque tinha-me recusado a crescer. É verdade que eu havia tomado sobre mim responsabilidades adultas (casamento, carreira profissional, casa, ser mãe) mas dentro de mim vivia uma rapariga de 13 anos que batia o pé e queixava-se sempre que as coisas não eram feitas tal como ela queria.
Obviamente que eu havia deixado de me queixar de forma infantil há anos atrás. Mas no lugar das queixinhas eu apenas havia colocado a manipulação emocional e personalidade complicada. Sem surpresa alguma, os meus dois filhos adolescentes passavam a maior parte do seu tempo livre com o pai do que comigo.
Enganada até à matança do filho.
Durante o tempo em que eu crescia como uma feminista diletante, engoli as declarações oficiais de que as mulheres podem ter tudo. Eu não só queria ter tudo e sentir validação completa em relação às minhas escolhas de vida, como não queria ter compromissos nem fazer sacrifícios.
O maior erro dos anos finais da minha adolescência foi deixar outras mulheres - pessoas que eu pensava serem fortes, independentes e inteligentes - determinar qual o estilo de vida que eu deveria seguir. Eu simplesmente era demasiado mimada e preguiçosa para olhar para dentro de mim, abraçando a introspecção necessária para se encontrar o caminho na vida, e escolher o caminho que haveria de me conduzir à realização e à felicidade.
Lembro-me muito bem do tempo da universidade. Foi uma época muito divertida e, pensei eu na altura, uma época muito iluminante. As festas eram boas, os debates políticos intensos, a lista de namorados e de encontros sexuais agradável.
Eu estudava muito e jogava duro. Frequentei os encontros feministas da universidade e ouvi as declarações presunçosas das oradoras em torno dos males da masculinidade. Aprendi a gozar com os homens quando não precisava deles por motivos egoístas - parceiros de estudo, ombros nos quais chorar, parceiros sexuais.
No entanto, nunca hesitei em piscar os meus olhos ou levantar a minha saia sobre as - então - magras coxas quando precisava algo dos homens. Era útil ter os homens por perto, mas, como as minhas amigas me diziam, não era vital.
Aprendi que o único lugar digno para as mulheres era a sala de reuniões e que a maternidade era algo abaixo da minha inteligência. "Apoderei-me" da noite em encontros depois da meia-noite com centenas de mulheres jovens como forma de provar ao mundo que todos os homens são violadores e criminosos em potência.
Quando engravidei, foi fácil fazer um aborto. O centro de saúde da universidade estava quase que desejoso em certificar-se que o procedimento [matar o bebé] era feito rapidamente e discretamente.
Nada disse aos meus pais nem ao homem que me havia engravidado. Nem sequer me lembro do seu nome. Só me lembro vagamente duma noite "selvagem" durante uma festa fora da universidade.
Só hoje considero a ironia de me sentir atraída pelos atletas da universidade - o tipo de homem que gosta de estar no comando.
Pós-graduação e adultério com o professor.
Seguir em frente com a minha carreira de MBA mal terminei os estudos foi uma consequência lógica. A pós-graduação foi dura. Competia com pessoas muito inteligentes - na maioria homens. Estes homens estavam destinados ao sucesso e eles sabiam-no. Mas eu tinha algo que eu na altura explorei. Eu tinha a minha feminidade e sempre que foi preciso, usei-a de um modo impiedoso.
Tentei convencer-me a mim própria que o meu romance com o professor de Finanças (casado) nada tinha a ver com as notas. Obviamente, a disciplina de Finanças era a mais difícil do curso. Quando eu consegui ter um B no final do semestre, foi difícil racionalizar que o caso amoroso secreto entre mim e o professor nada tinha a ver com isso.
Mas o fim justifica os meios e como tal, não havia forma alguma de eu não ser bem sucedida. As outras mulheres da minha turma fariam o mesmo se pudessem evitar as consequências. Nós nunca falávamos sobre isso, mas todas nós sabíamos (e ríamos dessa situação) que nós tínhamos algo que os homens nunca poderiam ter.
Casamento e filhos.
Conheci o meu marido no último ano da pós-graduação quando ele buscava qualificações em Sociologia. Ele tinha cabelo longo e uma mota. No princípio a química entre mim e ele foi muito intensa.
Ele era o boémio clássico e como tal, de modo a torná-lo num homem melhor (ou pelo menos a minha definição de "homem melhor"), senti a necessidade de lhe pôr umas rédeas. Ele era por vezes irresponsável mas eu amava-o de alma e coração.
Depois da graduação encontrei um emprego numa grande empresa. Todos os dias ia para o trabalho com a minha mala do poder e almofadas no meu casaco. O meu casamento foi algo tirado de revistas do tipo "Modern Bride". O meu marido finalmente aceitou cortar o cabelo depois de muita insistência minha. Mais tarde, ele chamou a minha insistência de importunação. Mas nada disso importava uma vez que eu tinha conseguido o que queria.
Ele começou a trabalhar numa organização de pesquisa de consumo. Ele não ganhava tanto como eu, mas nada disso importava. O meu salário era enorme e continuava em crescimento.
Compramos uma que encontrei nos subúrbios. Ele tinha recomendado uma casa mais modesta e mais perto do centro da cidade onde ambos trabalhávamos , mas eu nem queria ouvir falar nisso.
O meu sucesso tinha que ser visível através duma casa enorme e tradicional - bem como um quintal enorme. Apesar da sua resistência, certifiquei-me que ele tratava da relva do quintal.
Passados que estavam 5 anos, senti a necessidade te ter filhos. Não foi uma decisão mútua. Eu queria filhos. Não; eu desesperadamente precisava de filhos. Sentia-me vazia no meu interior por não ter filhos. Era um sentimento totalmente irracional para uma mulher com uma carreira proeminente determinada em ser a próxima directora executiva.
O meu marido, que não levantou oposição à minha ideia, perguntou-me como é que encontraríamos um equilíbrio entre as exigências paternas e a manutenção dum estilo de vida dispendioso. Eu não me importei. O meu útero estava vazio. Eu tinha necessidades. Nem a razão nem a lógica afectaram as minhas necessidades e os meus sentimentos.
Foi então que o primeiro bebé chegou. Instantaneamente a vida mudou. Não conseguia trabalhar as horas necessárias para manter a trajectória da minha carreira. O meu marido também mudou uma vez que perdeu a atitude boémia; vendeu a mota e tornou-se num pai devoto.
Ele amava o nosso primeiro filho de tal ponto que chegou a oferecer-se para trabalhar em part-time para permitir que eu mantivesse a minha carreira.
Mas isto para mim não era suficiente. Eu era a mãe, a rainha, a criadora omnisciente do meu filho. Claramente o meu marido era um tolo incompetente que não sabia distinguir uma fralda duma cadeira dum carro.
O meu patrão reparou que eu andava distraída com as minhas novas funções de super-mãe. Ele analisou a minha produtividade e soube que eu não poderia produzir como as minhas colegas solteiras ou as minhas colegas sem filhos. Quando um colega foi promovido em vez de mim, soube logo o que se estava a passar. Fiquei lívida. Como era possível eu não obter tudo o que queria?
Devido a isto, usei mais uma táctica feminista. Desta vez usei um pau em vez duma cenoura. Fui ao Recursos Humanos munida duma ameaça subentendida de processo legal por motivos de descriminação.
Uma vez que era claro que eu trabalhava menos horas, e, como consequência, produzia menos, esta táctica obviamente que não funcionou. Estava tudo documentado era perfeitamente defensível.
Fiquei furiosa. Como é que eles se atreviam a fazer uma coisa desta? Invoquei toda a indignação justificada que poderia invocar. Consultei ajuda legal externa à empresa - uma feroz advogada que estava perfeitamente preparada para iniciar um processo legal contra a empresa, até que ela se atirou a mim.
Sem dúvida que eu era uma mulher de mente aberta mas não era uma lésbica.
Pus de parte a movimentação legal e com tristeza aceitei o meu reduzido papel no emprego. Afinal de contas, tínhamos dívidas para pagar e o meu salário era necessário.
Observei o meu marido evoluir de um boémio para um pai responsável. Ele era surpreendentemente bom com o nosso primeiro filho. Claro que, com o tempo, eu não reconheci isso. Pensei sempre que tudo o que ele fazia estava errado. Apenas eu, a mãe suprema, poderia criar o nosso primeiro filho.
Batalhamos durante alguns anos e não foi fácil. Quando eu voltei a engravidar - planeado por mim sem consultar o meu marido - o stress continuou a crescer. Não havia dificuldades financeiras mas a tensão de manter o nosso estilo de vida, e a casa enorme, caiu sobre os meus ombros.
Eu nutria um ressentimento contra o meu marido por causa disso. Ele havia escolhido uma carreira profissional que gostava mas o seu rendimento não era nem de perto nem de longe tão elevado como o meu. Eu tinha mesmo que trabalhar. Havendo entrado no percurso materno, não havia forma alguma de eu conseguir atingir o que esperava da minha carreira.
Nós usávamos os serviços duma creche e tínhamos uma empregada a dias em part-time. Na verdade, tivemos 8 empregadas domésticas. Elas nunca eram suficientemente boas para mim.
Nada era suficientemente bom para mim. Os meus sapatos não me serviam, as minhas roupas ficavam-me mal, o carro não estava suficientemente bem lavado, e o meu marido não atingia os meus padrões.
Olhando para trás com uma honestidade brutal, eu era uma mulher pura e simplesmente problemática. Acho que passaram-se anos sem eu dizer uma frase simpática. Fico surpreendida pelo facto do meu marido me ter aturado. Eu nunca o levava a sério. Afinal, ele era apenas um homem.
Durante a minha limitada vida social, eu passava o meu tempo com mulheres como eu. Nós éramos um grupo infeliz de mulheres na casa dos 30 com carreiras poderosas. Mas todas nós sorríamos e fingíamos que a nossa vida era perfeita. Tínhamos as casas perfeitas, os carros perfeitos e as escolas perfeitas para os nossos filhos.
Convence-mo-nos de que, de facto, nós tínhamos tudo. Ocasionalmente uma de nós exibia algum tipo de frustração pela situação. Quando isso acontecia, nós tínhamos sempre bodes expiatórios: os nossos maridos, os nossos patrões, as nossas donas de casa, as escolas, o que quer que seja. Nunca era culpa nossa porque nós éramos mulheres.
Divórcio.
Quando um dos nossos filhos tinha 5 anos e o outro 7, o mundo ruiu. Melhor, explodiu. O meu marido desistiu. Ele não só me havia apoiado bastante como era bom com as crianças. Devido a isto, o facto dele desistir apanhou-me de surpresa. Mas acho que deveria ter previsto.
Eu usava a intimidade sexual como arma contra ele. Se ele não fizesse exactamente o que eu queria - se ele não se desdobrasse para satisfazer todas as minhas exigências - ele não experimentava qualquer tipo de gratificação sexual. Lembro-me que uma noite apanhei-o a "brincar consigo mesmo". Fiquei furiosa. Porque é que ele se atreveu a experimentar satisfação sexual sem que o meu controlo estivesse de alguma forma envolvido?
Adultério.
Como uma mulher saudável, eu tinha as minhas necessidades sexuais. Em vez de desfrutar o sexo dentro do contexto do casamento, tive um caso. Foi fácil. Eu ainda era mais ou menos atraente. Havia homens por perto. "Porque não?" racionalizei para mim mesma. O meu marido não me dá atenção suficiente, e como tal ele é o culpado.
O caso foi inconsequente; relações sexuais ao fim de semana e durante viagens de trabalho. Eu precisava disso portanto não havia problemas alguns. Eu estava a ser uma mulher poderosa e independente ao mesmo tempo que visitava motéis reles com um homem que me poderia dar orgasmos.
O romance durou 3 meses. O meu marido nunca soube de nada. Ele não precisava de saber: ele apenas desistiu. Curiosamente, ele direccionou os seus esforços para um negócio paralelo como consultor de marketing. Isto revelou-se muito lucrativo para ele. No espaço de 6 meses, o seu rendimento excedeu o meu. A nossa conta de poupanças cresceu consideravelmente. "É para as mensalidades universitárias dos rapazes" disse-me ele, vez após vez.
Eu estava infeliz. A minha carreira era stressante e insatisfatória. Devido às minhas horas de trabalho, os meus dois filhos eram mais próximos ao meu marido do que a mim. Por essa altura, ele havia terminado o seu emprego a tempo inteiro e prosperava como consultor de marketing, um emprego que ele poderia fazer a partir de casa com um computador e um telefone.
Sentia-me frustrada e vazia. As minhas amigas recomendaram aconselhamento e como tal, lá fomos nós dar uma tentativa. Subtilmente, eu escolhi uma conselheira que eu sabia ser mais simpatética à minha causa. As sessões eram, na verdade, divertidas mas de um modo desagradável.
A conselheira e eu passávamos 50 minutos a provocar o meu marido. Ele calmamente mantinha-se sentado, recebendo as críticas, pedindo desculpas e prometendo mudar. Eu nada tinha que prometer. A conselheira - uma mulher como eu [feminista] - deixou bem claro que as minhas necessidades eram prioritárias e as suas irrelevantes.
Obviamente que o aconselhamento não funcionou para nós. O meu marido retirou-se para a paternidade e para o seu crescente negócio. Contemplei mais um caso extra-conjugal, mas infelizmente eu estava a ganhar muito peso. Era difícil arranjar homens atraentes que notassem em mim. As minhas amigas recomendaram que eu considerasse um divórcio.
Eu hoje em dia olho para trás e penso nas minhas "amigas" desse período da minha vida. Elas eram um grupo de mulheres infelizes tentando desesperadamente validar as suas más escolhas de vida. Deixei que elas me influenciassem quando eu deveria ter sido forte. Isso foi um erro enorme.
Divórcio.
Eu não odiava o meu marido; eu apenas já não o amava mais. Eu queria uma vida nova e melhor. Eu era capaz de criar os meus filhos sem ele. Eu havia lido que, na verdade, as crianças não precisam de pais.
Sentia-me tão insatisfeita. Quando dei os papéis do divórcio ao meu marido, ele não parecia surpreso. Eu havia consultado uma boa advogada matrimonial e ela recomendou fortemente que eu tentasse ficar com tudo - casa, carros, custódia, pensão alimentícia, tudo. As suas palavras foram:
Isto é uma guerra, e como uma mulher, você tem que vencer.
O divórcio foi horrível e apesar do facto de eu ter ficado com a casa, o carro, as crianças, a pensão e as poupanças que ele havia feito,
eu perdi. Ele foi viver para um apartamento modesto e concordamos que ele poderia ver os filhos todos os fins de semana.
Na verdade, o tribunal ordenou que isso acontecesse. Eu ficaria feliz em forçá-lo a sair completamente das suas vidas, mas ele insistiu rigidamente nesse ponto, e o maldito juiz concordou.
Vida depois do divórcio.
Eu estava solteira outra vez. Mas com 38 anos, ter encontros românticos não era como nos tempos "selvagens" da faculdade quando eu era jovem, bonita e desejável aos olhos dos homens. Não, agora eu era uma mãe solteira. Tinha cortado o meu cabelo e a minha figura estava quase a passar o ponto de não retorno. O tipo de homem que eu queria não tinha interesse algum em mim. Esses homens poderosos e bem sucedidos tinham namoradas mais jovens e mais bonitas.
Os divorciados eram os piores. Eles estavam tão desiludidos que ou não conseguiam manter uma relação, ou saltavam de cama em cama - não querendo ser exclusivos.
O que eu realmente queria era que um homem atraente me arrebatasse nos seus braços, cuidasse de mim e fizesse os meus problemas desaparecer. Eu ainda olhava para mim como uma princesa. Ainda era tola, estúpida e imatura.
No entanto os homens que me atraíam não olhavam para mim duas vezes. Os homens que me queriam eram totalmente inadequados.
Foi um choque para mim descobrir que já não era atraente. Durante os anos da faculdade havia muitos homens atrás de mim. Lembro-me de gozar com todos os rapazes que se aproximavam de mim durante as festas. Se ele tivessem a mínima falha, eu rejeitava-os - usualmente com um insulto ou dois.
Nunca pensei duas vezes sobre os homens que rejeitei, alguns decentes e doces, agora que olho para trás. Eu e as minhas amigas chamava-mos a esses rapazes de "meninos da mamã", ao mesmo tempo que nos deixávamos levar pelos arrogantes e espertalhões que despertavam em nós atracção e luxuria.
Para piorar as coisas, eu não conseguia consertar nada em casa. O meu marido havia lidado com esses assuntos durante anos. Os meus filhos era pré-adolescentes e difíceis de controlar.
Eles odiavam o facto de só poderem vêr o pai aos fins de semana. As suas notas caíram e começaram a ter problemas disciplinares na escola. Naturalmente, eu culpei o pai deles. Era culpa sua que nós estávamos divorciados e ele vivia afastado deles. Tentei não dizer coisas más sobre ele à frente dos meus filhos, mas os sentimentos eram muitos fortes. Disse coisas terríveis sobre o seu pai especialmente quando estava bêbada - o que na altura acontecia muitas vezes.
Se eu era infeliz quando estava casada, agora eu era totalmente miserável como mãe solteira em busca de amor. Tentei persistentemente convencer-me que era forte, independente e inteligente. Às vezes funcionou - especialmente quando intimidava os meus subordinados na empresa.
Na verdade, eu odiava o meu emprego, Sim, ele dava-me uma boa vida, mas eu havia atingido o zénite da minha carreira e a sala de director executivo não se encontrava mais próxima. Eu ainda me sentia em conflito devido aos esforços para ser uma boa mãe ao mesmo tempo que era uma mulher executiva.
Eu tinha muitas culpas para depositar em ombros alheios. Não havia hipótese alguma da condição da minha vida ser o resultado das minhas decisões. As minhas amigas solteiras disseram-me precisamente isto muitas e muitas vezes durante bebidas que ingeríamos em bares para mulheres solteiras.
Eu havia lido muitas revistas femininas e o conselho que apreendi era essencialmente o mesmo: a culpa nunca era das mulheres.
Tentei perder peso, mas era muito difícil. Quando ficava com fome, eu simplesmente tinha que comer. Tive que comprar roupa nova outra vez uma vez que o peso continuava a aumentar. Durante um encontro às cegas o homem com quem me encontrei teve a audácia de me dizer:
Vais-me desculpar mas eu não me sinto atraído a ti por causa do teu peso.
Nunca tinha levado em conta a minha hipocrisia por querer um homem que me atraísse fisicamente. Os homens
tinham que estar atraídos a mim. Afinal, eu sou uma mulher.
A foto do arrependimento.
Os últimos anos têm sido meio confusos. O meu marido encontrou um novo amor e como tal, nutri ódio contra ele devido a isso. Tentei aumentar o dinheiro da pensão dos nossos filhos. Como isso não funcionou, tentei impedir os meus filhos de o visitar. Eles ofereceram resistência.
[Que tipo de mulher tenta impedir crianças de ter contacto com o próprio pai? Só uma feminista.]
Como consequência, libertei as minhas frustrações no emprego. O meu patrão ameaçou despedir-me. Só as minhas amigas ainda me apoiavam. Para ser sincera, nós éramos um grupo de mães solteiras - gordas e infelizes - que culpava o mundo inteiro pelo estado das nossas vidas.
Por isso é que quando vi a fotografia, a epifania atingiu-me de um modo bastante profundo. Através das lágrimas da angustia, raiva, mágoa e negação, veio a realização dolorosa de que eu era responsável pela minha própria infelicidade. Finalmente me apercebi que eu não havia crescido e nem havia abraçado a vida adulta. Isto foi há seis meses atrás.
Mudanças.
Fiz algumas alterações profundas na minha vida. Primeiro e antes de mais nada, parei de culpar os outros pelos meus problemas. Isto foi o mais difícil. Durante toda a minha vida foi-me dito - e eu acreditei - que, como mulher, 1) eu nunca poderia fazer algo de errado, 2) eu não era a culpada, 3) que eu era de uma ou outra forma uma vítima.
Mal aprendi a deixar de culpar o mundo, aprendi a ser mais agradável e simpática. Isto também foi difícil. Sempre confundi a amabilidade com fraqueza, mas não era o caso. Uma nova colega - mulher do sul do país - mostrou-me que era bastante simples ser simpática e forte ao mesmo tempo.
Durante este processo, vi-me livre das minhas amigas. Esta parte foi fácil. Este grupo de mulheres infelizes e negativas encorajou-me a fazer coisas estúpidas como divorciar-me dum bom homem devido ao meu egoísmo e devido aos meus sentimentos arbitrários da altura. Finalmente aprendi que agir segundo os sentimentos pertence à esfera infantil e não a esfera adulta. Pode ser que aquelas mulheres um dia aprendam isso, mas duvido.
O presente.
Agora todos os dias vou ao ginásio. Depois de ter sido rejeitada por tantos homens atraentes e decentes, resolvi aplicar padrões realistas a toda a minha busca por um novo amor. Afinal, se eu acreditava na atracção física, porque é que os homens não acreditariam?
Ser gorda significa não ser fisicamente atraente aos olhos de muitos, muitos homens, e, como tal, cabe-me a mim fazer algo em relação a isso - e não ficar zangada com todos os homens por causa disso. O peso está a desaparecer; é uma batalha, sem dúvida, mas ele está a desaparecer. Estou também a deixar crescer o meu cabelo e ver-me livre de todo aquele estilo de cabelo à "mãe".
Já não leio aquelas repugnantes revistas feministas nem vejo TV. Quando livrei o meu pensamento do que me tinham dito sobre os homens, aprendi que, na verdade, eles são pessoas maravilhosas.
Os meus filhos aperceberam-se da minha transformação. À medida que eles crescem e se vão tornando homens, parei de chateá-los em torno de "sentimentos" e "sensibilidade" e agora encorajo-os a serem homens.
Duvido que alguma vez consiga resolver as coisas com o meu ex-marido, mas tudo o que posso desejar é que ele encontre a felicidade e alegria na sua vida. Tenho um respeito renovado por ele - um respeito que nasceu no momento em que entendi que os homens são diferentes, não piores, mas apenas diferentes. O meu ex é também um excelente pai, e como tal, sou abençoada nisso.
Aprendi a aceitar que as minhas necessidades não são o centro do universo. Na verdade, isto foi muito libertador. Não mais eu sou uma escrava dos caprichos das minhas emoções superficiais que não podem ser razoavelmente satisfeitas. Isto significa que eu queixo-me menos. Se não consigo mudar uma situação, para quê queixar-me? O inverno é frio; as minhas queixas em relação à temperatura não vão aumentar o calor da atmosfera.
O maior arrependimento que eu tenho na minha vida é o de ter sido fraca o suficiente para só agora fazer uma introspecção séria. Se eu tivesse sido verdadeiramente forte, e verdadeiramente inteligente, eu teria levado em conta o que realmente é importante para mim em vez de ter sido levada pela manada [feminista].
Em retrospecção, ter-me agarrado à escada corporativa foi uma má decisão. Explorar a minha feminidade para manipular os homens foi ainda pior. Adoro ser uma mulher, mas usar o sexo para obter o que quero não é melhor do que um homem usar a força física para obter o que deseja.
Ainda estou solteira; esta coisa de encontros amorosos ainda me engana. Há, no entanto, uma chama de esperança; um homem simpático elogiou o meu sorriso.
Aos 45 anos, esta foi a primeira vez que alguém notou no meu sorriso. O meu filho também fez menção ao sorriso:
Mãe, eu nunca te vi a sorrir até agora.
A vida tem que se tornar melhor para mim.
Isso é a minha responsabilidade e a de mais ninguém.
Testemunho duma ex-feminista visto neste blogue.