quarta-feira, 13 de maio de 2015

Kim Philby e a grande traição

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No crepúsculo da espionagem internacional, um nome mais do que outros invoca uma imagem de traição paciente e magistral, a insidiosa presença do inimigo no interior do santuário.

Independentemente do país que sirvam, espera-se que gerações de estagiários de espionagem e de  contra-espionagem saibam o seu nome: Philby. Por mais de meio século até aos dias de hoje, Harold Adrian Russell “Kim” Philby (1912-1988) continua a ser, tanto na história da espionagem bem como na literatura popular, a toupeira por excelência, o agente de penetração profunda que escavou o seu caminho até ao topo dos serviços secretos Britânicos como forma de disponibilizar os segredos mais bem guardados da Coroa à Rússia Soviética.

O choque da traição de Philby reverberou por todo o establishment Britânico, embora, em retrospectiva, o incidente nos diga mais da depravação social, cultural e espiritual de toda a elite governante do que apenas as explorações sórdidas dum espião.

Uma nova visão sobre esta notória história de espiões, A Spy Among Friends: Kim Philby and the Great Betrayal, salienta não só o trabalho concorrente de Philby pelo MI6 e pela KGB, mas examina também o rasto de vidas quebradas que ele deixou. Usando entrevistas e material de arquivo, o jornalista Ben McIntyre criou um relato cativante da forma e do porquê um Inglês da classe alta ter, com sangue frio, enviado imensos agentes Ocidentais para além da Cortina de Ferro e para a sua desgraça, ter trazido a infelicidade e a ruína para muitos conjugues, e ter destruído as carreiras dos seus colegas e dos seus amigos íntimos,

Philby foi um traidor com uma causa; ele não espiou pr amor ou pela emoção, mas sim porque ele acreditava sinceramente na criação dum futuro brilhante prometido pelo Comunismo. Começando em 1934, quando ainda era um recém-graduado do Trinity College de Cambridge e na altura em que foi recrutado pelos serviços secretos Soviéticos, até à sua dramática deserção em Beirute (em 1963), Philby manteve uma sólida fé interior na sua missão, uma crença que ele manteve até à sua morte.

A conversão juvenil de Philby ao Marxismo dificilmente foi algo de extraordinário - por toda a Europa do período entre as duas Grandes Guerras, a ideologia Comunista  estava en vogue junto dos intelectuais, e a União Soviética parecia ser uma experiência promissora para a criação duma nova sociedade. De facto, outros 4 colegas de turma de Philby iriam também jurar lealdade ao Centro de Moscovo, formando o grupo que recebeu o nome de The Cambridge Five, uma rede de agentes que ainda hoje é celebrada pela organização secreta que sucedeu a KBG, a SVR, como um exemplo duma infiltração de longo prazo.

A causa imediata para a atracção rumo ao Marxismo por parte das classes educadas do Ocidente pode ser encontrada na crise económica que afligiu primeiro a Grã-Bretanha, a América, e o Continente no início da década 30, com o consequente empobrecimento, instabilidade política e a ascenção do fascismo. 

Embora o privilegiado Philby e os seus amigos não tenham sido directamente afligidos pela depressão, a moda intelectual olhava para o materialismo dialéctico e para o revolucionário estado Socialista como resposta ao falhanço da civilização capitalista. A democracia liberal já se tinha revelado como uma fraude à medida que oligarcas vorazes expandiam as suas posses de maneira proporcional à miséria dos trabalhadores comuns. Sendo dificilmente uma sistema de pensamento que havia ascendido nas estepes Eurasianas, a tentação totalitária havia nascido das filosofias governantes do Ocidente moderno.

Nascido em Lahore [Paquistão], e havendo recebido o nome do herói do livro de Rudyard Kipling com o nome de "Great Game", Kim Philby era uma criança do Império Britânico. E estando  milhares de milhas longe de Punjab, Londres geria um empreendimento global fundamentado no liberalismo clássico de Locke, no poder científico-industrial, e na tradição marítima-comercial de Cartago, Atenas e Veneza. O largamente ausente pai de Philby, St. John Philby, havia construído a sua carreira como um altamente respeitado orientalista ao estilo de Lawrence da Arábia, e iria servir de "conselheiro" do Rei Ibn Saud.

O jovem Philby recebeu uma educação clássica, tendo visto a sua educação moldada em grande parte dentro das mais prestigiadas escolas públicas. Embora "Deus, Rei e Nação" possa ter sido o credo de serviço junto da elite administrativa do Império, poucos - se algum - destes homens realmente acreditava em Deus da forma que os seus ancestrais acreditavam, ao mesmo tempo que o rei e a nação se haviam tornado numa fachada retórica para os planos das predatórias dinastias banqueiras. Em vez disso, e tal como o melhor amigo de Philby e companheiro do MI6 Nicholas Elliott declarou, eles serviam "o rei, a classe, e o clube" - dificilmente uma fórmula inspiradora.

A vápida e auto-gratificante ideologia do liberalismo humanista do Iluminismo presente no Império, aliadas à doutrinas empiristas ainda mais consistentes de Hume, Bentham, e Darwin, haviam esvaziado as instituições sociais - e o Cosmos - de todo o significado transcendental. Não é de estranhar, portanto, que um jovem aristocrata como Philby tivesse buscado uma nova revelação junto do Marxismo, a narrativa de salvação dum reino terrestre tornado perfeito através da revolução do proletariado.

No seu trabalho secreto para o Partido, Kim Philby aplicou as conclusões lógicas dos princípios materialistas que a filosofia liberal haviam, em última análise, criado; ele buscou formas de destruir uma Grã-Bretanha já decadente a partir do seu interior como forma de materializar o alvorecer duma transformadora nova era. Tal como o ascético Ortodoxo Padre Seraphim Rose diagnosticou tão bem, o jovem radical só estava a consumar um processo que havia começado muito antes de por parte dos defensores da "liberdade" e da "razão".
O Liberal, o homem mundano, é o homem que perdeu a sua fé; e a perda da fé perfeita é o princípio do fim da ordem erguida com base nessa fé. Aqueles que buscam preservar o prestígio da verdade sem no entanto acreditar nela, estão a dar uma arma poderosa a todos os seus inimigos; uma fé meramente metafórica é suicida. O radical ataca a doutrina Liberal em todos os pontos, e o véu da retórica não é protecção contra o forte impulso da sua espada afiada. 
O Liberal, perante este ataque persistente, vai cedendo ponto a ponto, forçado a admitir a verdade das acusações contra ele sem ser capaz de contrapor esta verdade negativa e crítica com a sua verdade positiva; até que, depois duma longa e normalmente gradual transição , de repente ele acorda só para descobrir que a Antiga Ordem, sem defesa e aparentemente indefensável, foi derrubada, e que uma nova e mais "realista" - e mais brutal ordem tomou o seu lugar.
A espionagem é o negócio da traição, e até o momento em que os seus camaradas e amigos e agentes de Cambridge Guy Burgess e Donald Maclean fugiram para Moscovo em 1951, o negócio correu bem para Philby. Promovido depois da Segunda-Guerra para o papel de líder das operações anti-Soviéticas e depois enviada para  Washington  como o contacto do MI6, a toupeira amigável e laboriosa ganhou amigos com facilidade. Ele foi também nobilitado, a Ordem do Império Britânico, conferido pela Rainha Elizabeth. A menos que pensemos que a honra é uma mera aberração, convém lembrar o sentido lamento de Edmund Burke:
A era do cavalheirismo acabou. - A era dos sofistas, economistas e calculadores sucedeu-lhe; a glória da Europa está extinta para sempre.
Que Philby e Anthony Blunt, outro membro do Cambridge Five e Agrimensor das Imagens do Rei, tenham sido nobilitados antes da sua traição ter sido exposta por parte do MI5 perdoa-se, mas eles eram sintomas duma aflição mais profunda. Na nossa era, o cavalheirismo, tal como todo o outro valor digno, foi sistematicamente sujeito à lógica da inversão. De que outra forma é que se explica o facto de títulos nobres terem sido conferidos aos mestres da usura, fornecedores de anti-cultura, e estrelas da música rock dissolutas?

"Cambridge Five"
E o que dizer do “Sir” Jimmy Savile, disc-jockey da BBC e famoso confidente da Família Real, que durante décadas levou a cabo violações contra um número incontável de crianças um pouco por toda a Grã-Bretanha, ou o que dizer dàs várias dúzias de MPs [Membros do Parlamento Britânico] e oficiais do governo que estão agora a ser implicados a anéis de pedofilia e de assassínio de crianças? Muito para além da espionagem, este tipo de maldade tem o claro selo satânico; quem nos dera que Deus trouxesse à vida o Rei Artur e os seus cavaleiros como forma de varrer tal imundice da esverdeada e agradável terra da Inglaterra.

Guerreiro frio até ao fim, Philby demarcou o seu papel dúplice no confronto bipolar entre o capitalismo e o comunismo. No entanto, sem o conhecimento dos soldados rasos de cada um dos lados, o resultado planeado deste confronto dialéctico era a tirania universal. Tal como os Marxistas apelavam à inevitabilidade da História, também a superclasse plutocrática Ocidental - e de forma bem aberta através de teóricos tais como HG Wells e Aldous Huxley a Bertrand Russell e Zbigniew Brzezinski – propagou a supremacia da "ciência" como forma de justificar o seu desejo de poder total.

Comparativamente, o Estado Mundial tecnocrata, o sonho dum louco que ameaça transmutar-se para a realidade, faria com que o projecto Soviético parece-se uma brincadeira de crianças. Sem dúvida que Kim Philby era um traidor; níveis acima dele, criminosos muito mais grandiosos têm arquitectado a aniquilação da família, da herança nacional e religiosa, e a própria essência da identidade humana.

É aqui que se encontra a grande traição. 


* * * * * * *

Como todos os idiotas úteis, mal ele passou a viver dentro dele, Philby eventualmente ficou a saber da verdadeira natureza do Marxismo:

Mais tarde, a sua esposa Rufina Ivanovna Pukhova descreveu Philby como uma pessoa "desapontada de muitas maneiras" com o que ele viu em Moscovo. "Ele viu as pessoas a sofrer tanto," mas consolou-se alegando que "as ideias estavam certas mas estavam a ser levadas a cabo da maneira errada. A culpa era das pessoas que se encontravam a dirigir as coisas." Pukhova disse ainda que, "ele foi atingido pela desilusão, o que lhe trouxe lágrimas aos olhos. Ele disse 'Porque é que as pessoas vivem de forma tão má por aqui? Afinal, eles ganharam a guerra.'" Philby bebia muito e sofria de solidão e depressão; segundo Rufina, durante os anos 60 Philby tentou o suicídio cortando os seus pulsos.

A maior tragédia da vida de Philby (e de todos os idiotas úteis como ele) é que muito provavelmente ele nunca ficou a saber que quem criou, financiou e propagou o comunismo foi a mesma elite capitalista que controla o Ocidente. Philby, tal como a grande maioria dos Comunistas,  foi motivado a promover o Marxismo na sua luta contra o capitalismo, sem se aperceber que essa luta é uma fachada dialéctica que tem como propósito a concentração do poder nas mãos da mesma elite que criou essa guerra falsa.

Há sempre uma aparência "nobre" alegar que se vai retirar o poder do "grande capital" e entrega-lo ao auto-nomeado "representante do povo" - o governo - sem no entanto, se mencionar que esse "representante" é controlado pelo mesmo grande capital contra quem os Marxistas alegam estar a "lutar".

Por fim, e como dito várias vezes, a forma de combater os planos da elite capitalista tecnocrata é a reinstalação do Cristianismo como fundamento moral do Ocidente porque, como disse o Padre Rose, "O Liberal, o homem mundano, é o homem que perdeu a sua fé; e a perda da fé perfeita é o princípio do fim da ordem erguida com base nessa fé."

"Na verdade que já os fundamentos se transtornam; que pode fazer o justo?" - Salmo 11:3



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