sábado, 14 de fevereiro de 2015

Imigração: O Exército de Reserva do Capitalismo

Por Alain de Benoist

Em 1973, pouco antes da sua morte, o Presidente Francês Georges Pompidou [na foto] admitiu que ele havia aberto as portas da imigração a pedido de um número de grande empresários, tais como Francis Bouygues, porque estava desejoso de aproveitar da mão-de-obra barata e dócil, vazia de consciência de classe e sem qualquer tradição de luta social. 

Este gesto tinha como propósito exercer uma pressão negativa nos salários dos trabalhadores Franceses, reduzindo o seu zelo pelo protesto e, principalmente, acabar com a unidade do movimento trabalhista. "Os grandes empresários", disse ele "querem sempre mais."

Quarenta anos passados, nada mudou. Numa altura em que nenhum partido político se atreve a militar por uma aceleração do ritmo da imigração, só os grandes empregadores parecem estar em favor disso - e isso porque é do seu interesse. A única diferença é que os sectores económicos afectados são actualmente mais alargados, indo para além dos sectores industriais, serviços de hotelaria e de catering - chegando agora às profissionais outrora "protegidas", tais como a profissão de engenheiro e a profissão de cientista computacional.

A França, tal como a conhecemos, e começando no século 19, tentou de modo maciço atrair os imigrantes. Em 1876 a população imigrante já era de 800,000, só para atingir os 1,2 milhões em 1911. A indústria Francesa era o centro de atracção principal para os imigrantes Italianos e Belgas, seguidos dos imigrantes Polacos, Espanhóis e Portugueses.

Tal imigração, de não-qualificados e de não-sindicalizados, permitiu aos empregadores evitar os requerimentos crescentes relativos à lei laboral (François-Laurent Balssa, « Un choix salarial pour les grandes entreprises» Le Spectacle du monde, Octobre, 2010).

No ano de 1924, e segundo iniciativa do Comité do Carvão e dos grandes fazendeiros do Nordeste da França, foi fundada uma "Sociedade Geral da Imigração" (Société générale d’immigration). A mesma abriu agências na Europa, e estas operavam como bombas de sucção.

Por volta de 1931 existiam cerca de 2,7 milhões de estrangeiros na França, isto é, 6.6% da população total. Por essa altura a França tinha o nível de imigração mais elevado da Europa (515 pessoas por cada 100,000 habitantes). “Esta foi a forma conveniente através da qual os grandes empregadores exerceram pressão negativa nos salários. ... A partir daí, o capitalismo entrou na competição pela força laboral, estendendo a mão aos exércitos de reserva de assalariados.”

Depois da Segunda Guerra Mundial, os imigrantes começaram a chegar mais e mais dos países Magrebinos; primeiro da Argélia, e depois de Marrocos. Camiões fretados pelas grandes empresas (especialmente empresas da indústria automóvel e da indústria da construção) vieram às centenas para recrutar imigrantes in loco. Entre 1962 a 1974, quase 2 milhões de imigrantes chegaram a França, dos quais 550,000 foram recrutados pelo Serviço de Imigração Nacional (ONI), agência governamental mas controlada secretamente pelos grandes empresários. Desde então, a onde continuou a crescer. François-Laurent Balssa nota que
quando uma escassez de força laboral ocorre num sector, de entre as duas opções, ou se aumentam os salários ou então tem que se estender a mão para a força laboral estrangeira. Normalmente, a última opção era a preferida por parte do Conselho Nacional de Empregados Franceses [National Council of French Employers (CNPF)] e pela organização que lhe sucedeu, Movimento de Empresas (MEDEF). 
Essa escolha, que testemunha em favor do desejo de benefícios a curto prazo, atrasou o desenvolvimento das ferramentas de produção e da inovação industrial. No entanto, durante esse mesmo período, tal como demonstra o exemplo do Japão, a rejeição da imigração estrangeira e o favorecimento da força laboral doméstica permitiram ao Japão atingir a sua revolução tecnológica, bem para além dos seus concorrentes Ocidentais. 
O Grande Negócio e a Esquerda; Uma Santa Aliança

No princípio, a imigração era um fenómeno ligado às grandes empresas. Ainda continua a ser. Aqueles que sempre clamam por mais imigração são as grandes companhias.  Esta imigração está de acordo com o espírito do capitalismo, que tenciona a eliminação das fronteiras (« laissez faire, laissez passer »). 

“Ao mesmo tempo que obedecem ao esvaziamento social, continua Balssa, um mercado de trabalho “low cost” foi, portanto, criado com os "não-documentados" e os "pouco-qualificados" a funcionarem como "faz-tudo" tampão.Consequentemente, o grande negócio estendeu a mão à extrema-esquerda, o primeiro a tentar acabar com o estado-Providência, qualificado como demasiado oneroso, e a última a tentar matar o estado-nação, considerado demasiado arcaico".

É por este motivo que o Partido Comunista Francês e o Sindicato Francês (que entretanto mudaram muito desde então)  tinham, até 1981, militado contra o princípio liberal das fronteiras abertas (em nome da defesa dos interesses da classe operária). Estas observações são confirmadas pelo positivamente inspirado conservador-liberal Católico Philippe Nemo:
Na Europa existem pessoas que se encontram no comando da economia que sonham em trazer para a Europa mão-de-obra barata. Primeiro, para fazerem o trabalho para o qual não existe muita mão-de-obra local; depois, para exercerem considerável pressão negativa nos salários dos outros operários da Europa.

Estes lobbies, que possuem todos os meios necessários para serem ouvidos quer seja pelo governo ou pela Comissão em Bruxelas, são, de forma geral e ao mesmo tempo, em favor da imigração e do aumento do número de países da União Europeia - o que iria facilitar de modo considerável a migração laboral. Do seu ponto de vista, eles estão correctos - e o ponto de vista deles tem uma lógica puramente económica [...]. O problema, no entanto, é que não se pode pensar só em termos económicos visto que a chegada de populações extra-Europeias irão ter também consequências sociais severas.

Se estes capitalistas prestam pouca atenção a estes problemas, é porque eles desfrutam, de modo considerável, dos benefícios económicos da imigração, sem no entanto sentirem os seus efeitos sociais. Com o dinheiro adquirido pelas suas companhias, cuja rentabilidade é garantida desta maneira, eles podem residir em  bairros bonitos, deixando os seus compatriotas menos afortunados com a missão de lidarem sozinhos com a população estrangeira nas áreas suburbanas. (Philippe Nemo, Le Temps d’y penser, 2010)
Segundo dados oficiais, os imigrantes a viver em casas regulares são cerca de 5 milhões, que era cerca de 8% da população francesa em 2008. Os filhos dos imigrantes, que são descendentes directos de um ou dos dois imigrantes, representam 6,5 milhões de pessoas, que é cerca de 11% da população. Estima-se que o número de imigrantes ilegais se situe entre os 300,000 e os 550,000. (A expulsão anual de imigrantes ilegais custa 232 milhões de Euros todos os anos, isto é, 12,000 por cada caso).

Segundo Jean-Paul Gourevitch, estima-se que o número de pessoas com origem estrangeira que viviam na França em 2009 era de 7.7 milhões (dos quais 3,4 milhões são do Magrebe e 2,4 milhões são da África Sub-Sahariana), isto é, 12,2% da população metropolitana. Em 2006 a população imigrante era responsável por 17% dos nascimentos na França.

Actualmente, a França está a passar por assentamentos de imigrantes, que é uma consequência directa da política de reunificação familiar. No entanto, mais do que qualquer altura no passado, os imigrantes são o exército de reserva do capitalismo. Neste sentido, é espantoso observar a forma como as redes construídas para defender os interesses dos "sem-documentação", controladas pela extrema-esquerda (que parece ter descoberto nos imigrantes o seu "proletariado substituto"), serve os interesses das grandes companhias.

Redes criminosos, traficantes de pessoas e de bens, grandes companhias, activistas dos "direitos humanos", e empregadores secretos - todos eles, por virtude do mercado livre global, tornaram-se apoiantes da abolição das fronteiras. Por exemplo, é um facto bastante revelador que Michael Hardt e Antonio Negri, nos seus livros  Empire e Multitude  defenda a “cidadania mundial” quando apelam para a remoção das fronteiras, que nos países desenvolvidos tem que ter como objectivo primário a acomodação acelerada de trabalhadores do Terceiro Mundo com baixos salários.

O facto da maioria dos imigrantes actuais dever a sua deslocação à terceirização, materializada através da lógica infindável do mercado global, e que o seu deslocamento ser precisamente aquilo em favor do qual o capitalismo milite de modo a ajustar todas as pessoas no mercado, e finalmente, que cada ligação territorial poder ser uma parte das motivações humanas - não parece perturbar estas duas autoridades [Hardt e Negri]. Pelo contrário, eles notam com satisfação que o "próprio capital requer um aumento da mobilidade da força laboral, bem como uma migração contínua através das fronteiras nacionais.”

Do seu ponto de vista, o mercado mundial deve ser uma enquadramento natural para a "cidadania mundial". O mercado "exige um espaço macio de fluxo não-codificado e desterritorializado,” destinado a servir os interesses das "massas", porque  "mobilidade carrega consigo uma etiqueta de preço do capital, que significa um desejo acrescido pela liberdade.”

O problema de tal apologia em favor do deslocamento humano, visto como a primeira condição do "nomadismo libertador", é que ele depende duma visão irrealista da situação específica dos migrantes e das pessoas deslocadas. Tal como Jacques Guigou e Jacques Wajnsztejn escrevem:

Hardt e Negri iludem-se com a capacidade dos fluxos migratórios, alegadamente uma fonte de novas oportunidades para a valorização do capital, bem como base para novas oportunidades para o aprimoramento para as massas. No entanto, as migrações significam nada mais que um processo de competição universal, enquanto que a imigração não tem mais capacidade de emancipação do que ficar em casa. Uma pessoa "nómada" não está mais inclinada à crítica ou à revolta que uma pessoa sedentária.  (L’évanescence de la valeurUne présentation critique du groupe Krisis, 2004).

Enquanto as pessoas continuarem a abandonar as suas famílias, acrescenta Robert Kurz, e continuarem a trabalhar em qualquer outro lugar, até mesmo colocando em risco as suas vidas - apenas e só para serem esmagadas pelo rolo compressor capitalista - elas serão menos que os arautos da emancipação e mais agentes auto-congratuladores do Ocidente pós-moderno. De facto, eles apenas são a sua versão miserável (Robert Kurz, « L’Empire et ses théoriciens », 2003).

Quem quer que critique o capitalismo ao mesmo tempo que aprova a imigração, cuja primeira vítima é a classe operária, o melhor que tem a fazer é calar a boca. Quem quer que critique a imigração mas nada diga do capitalismo, tem que fazer o mesmo.





2 comentários:

  1. Na minha opinião, o futuro da Europa passa pelo Separatismo-50-50.
    .
    Leia-se:
    - Os 'globalization-lovers'... que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!.
    --->>> Uma nota: existem 'globalization-lovers' que criticam a repressão dos Direitos das mulheres... todavia, em simultâneo, para cúmulo, defendem que... se deve aproveitar a 'boa produção' demográfica proveniente de determinados países {nota: 'boa produção' essa... que foi proporcionada precisamente pela repressão dos Direitos das mulheres (obs: tratadas como úteros ambulantes) - ex: países islâmicos}... para resolver o deficit demográfico na Europa!?!?!?!

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  2. Gorge Pompidou foi Diretor do Banco Rothschild na França.

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