domingo, 22 de fevereiro de 2015
As mulheres são mais felizes?
Por José António Saraiva
Lídia Jorge dizia há quinze dias, em entrevista ao SOL, que no tempo da
sua infância “havia a ideia que a mulher tinha que ser como a galinha,
útil em tudo”. E revelava que, ainda em criança, a mãe, a avó e a tia
lhe pediam para ler alto romances portugueses, enquanto elas “ficavam a
bordar, a costurar, a fazer cestos…”
Tenho muita estima por Lídia Jorge. Uma estima que herdei do meu pai,
que me falava dela com muito entusiasmo depois de ler o seu livro O
Cais das Merendas. O meu pai não era uma pessoa de elogio fácil, pelo
que, quando se entusiasmava com alguma coisa em matéria literária, o
elogio era para ser levado a sério.
Ao longo dos anos, o meu pai foi-me falando de escritores e de livros
que estava a ler ou que o tinham marcado. Além de Lídia Jorge, referia
com frequência Agustina Bessa-Luís, por cuja escrita se apaixonou após
ler A Sibila. De Nuno Bragança, ofereceu-me um dia A Noite e o Riso.
Gostava pessoalmente de José Cardoso Pires, que chegou a ser visita de
nossa casa, mas dizia que, depois O Hóspede de Job, passara a escrever
sempre o mesmo livro.
Nunca me falou de António Lobo Antunes e não gostava de José Saramago,
cuja escrita considerava rude e com falta de elegância. Dos mais
antigos, deu-me (num aniversário) a História de Portugal de Alexandre
Herculano, encadernada. Venerava Oliveira Martins e o seu Portugal
Contemporâneo. Deliciava-se com Eça de Queirós, tendo-me emprestado A
Cidade e as Serras anotado a lápis.
Não gostava muito de A Selva, de
Ferreira de Castro, mas adorava A Lã e a Neve. Dos poetas, endeusava
positivamente Fernando Pessoa e não poupava elogios a Herberto Hélder.
Dos estrangeiros, falava recorrentemente de James Joyce e do seu
Ulisses (no qual eu nunca consegui passar da página 30), e lembro-me de
me ter oferecido, entre muitos outros, o Grande Sertão, Veredas, de
João Guimarães Rosa, e o Cem Anos de Solidão, de García Márquez. Certo
dia emprestou-me O Pacto, de James A. Michener, uma grandiosa epopeia
da entrada dos boers na África do Sul.
Inversamente, detestava o neo-realismo, rejeitando com vigor a escrita
como veículo de propaganda política. Desconsiderava, por exemplo,
Soeiro Pereira Gomes e o seu celebrado Esteiros. A sua ruptura com o
PCP, consumada em meados dos anos 60, reforçou esta aversão. O que o
entusiasmava na literatura era a criatividade, a capacidade para
reinventar a escrita, a invenção das palavras, a originalidade.
Mas tudo isto veio a propósito de uma frase de Lídia Jorge sobre as mulheres nos anos 50.
Já escrevi várias vezes sobre o feminismo, que a meu ver seguiu um
caminho errado. Em vez de falar na ‘igualdade de oportunidades’ para
todos, homens ou mulheres, apostou numa ‘igualdade’ pura e dura, sem
distinção de género – convocando as mulheres para queimarem os
soutiens, cortarem o cabelo curto, vestirem-se à homem e usarem pasta à
executivo.
Este tipo de feminismo conduziu a um beco sem saída, porque as mulheres
não queriam – com toda a razão – parecer-se com os homens. Queriam
continuar a parecer mulheres, embora com direitos iguais. Acontece que
esses direitos iguais, inquestionáveis, abanaram a sociedade de alto a
baixo, revolvendo-lhe as entranhas.
A entrada das mulheres no mercado de trabalho deu-lhes independência
económica, permitindo-lhes libertarem-se das garras de maridos
exploradores ou tirânicos, ou da ‘escravidão do lar’, como algumas lhe
chamavam. Mas teve enormes consequências na estabilidade das famílias.
Na sociedade matriarcal as mulheres eram o pilar da família: efectuavam
os trabalhos domésticos, transmitiam segurança aos filhos através da
presença em casa, garantiam o equilíbrio familiar.
Quando as mulheres começam a sair de casa para irem trabalhar, todo este equilíbrio naturalmente desaba.
A casa fica vazia durante o dia inteiro e há tarefas que não se
executam. As crianças não têm com quem ficar e vão para creches. As
mulheres chegam a casa estafadas ao fim do dia de trabalho, não tendo
paciência para os filhos nem para fazer nada. Muitos maridos protestam
– e elas reclamam (justamente) com eles por não ajudarem. Só que os
homens resistem, pois nunca viram os seus pais dividir as tarefas
caseiras. O mal-estar no casal instala-se. Todos nós conhecemos
situações destas.
A juntar a isto, o facto de as mulheres passarem mais tempo no trabalho do que em casa tem obviamente consequências.
Passam a preocupar-se muitas vezes mais com as carreiras do que com a
família, começam a ter filhos mais tarde e têm menos filhos. Os filhos
beneficiam menos da presença das mães. As mulheres conversam mais tempo
com alguns colegas do que com os maridos, criando relações de
cumplicidade. A família relativiza-se, passa a segundo plano. Os
adultérios, concretizados ou apenas idealizados, tornam-se mais
frequentes.
Vendo o colapso de muitos casamentos, os jovens começam a hesitar em
casar. As uniões tornam-se mais frágeis, mais efémeras, menos estáveis.
Vive-se agora com uma pessoa e logo a seguir com outra. As mulheres têm
hoje filhos de um companheiro e amanhã doutro – passando-se o mesmo com
os homens. Os filhos sofrem com as separações dos pais, entram em
instabilidade emocional – e daí ao consumo de drogas ou às tentativas
de suicídio pode ir um pequeno passo.
A crise da família traz às sociedades contemporâneas problemas
infindáveis. Problemas que ninguém quer ver e de que ninguém quer falar
porque não tem solução para eles.
Sabe-se que a História não anda para trás, que a conquista de direitos
por parte das mulheres é irreversível, que as fadas não regressarão ao
lar. Mas ninguém sabe como resolver os problemas que o progresso
levantou.
Entretanto, há uma pergunta fatal, embora muito politicamente
incorrecta, que não pode deixar de ser feita: as mulheres são hoje mais
felizes?
Mulheres que se levantam de madrugada para ir levar os filhos
à escola, que vão a correr para o emprego, que vêm a correr do emprego
para chegarem a horas de ir buscar os filhos, que vão a correr para
casa para fazer o jantar (contando ou não com a ajuda dos maridos)
terão uma vida melhor do que as que ficavam em casa a tratar dos
filhos?
Mais independentes são, sem dúvida. Mas serão mais felizes?
Curiosamente, Lídia Jorge, que sempre lutou pelos direitos femininos,
quando fala dos seus tempos de infância revela nostalgia e saudade por
essa sociedade que já não existe.
À pergunta “Em que sítio escreve?”, Lídia Jorge responde: “No Algarve,
na casa da minha mãe. No sítio onde a minha avó amassava o pão”. É uma
imagem caseira, de um tempo que passou. Mas é essa imagem que, ainda
hoje, transmite segurança e paz à escritora. A avó a amassar o pão para
a família.
O passado não volta. Não vale a pena chorar sobre o leite derramado.
Mas devemos ter consciência de que o progresso não traz só coisas boas
e de que há sempre um preço a pagar. A escritora Maria Lamas, uma
grande lutadora pelos direitos femininos, que também foi amiga do meu
pai e esteve exilada em Paris ao mesmo tempo que ele, dizia que as
mulheres tinham passado a ser “duplamente exploradas” – porque
trabalhavam fora de casa e tinham de continuar a fazer em casa os mesmo
trabalhos que faziam antes...
* * * * * * * *
Sem dúvida que esta é uma pergunta fundamental: as mulheres são mais
felizes hoje? Ao se ler os comentários no site do Jornal Sol, e na
página do Facebook, muito poucas mulheres responderam à pergunta de
forma directa, preferindo dizer que "agora somos livres!", o que é
falso.
Pode ser que as mulheres portuguesas sintam um misto de raiva e
frustração por se aperceberem que foram enganadas com a canção da
"liberdade", mas não queiram admitir isso sem perderem algo que elas
valorizam. A raiva pode vir também do facto delas não saberem a quem
acusar pela sua infelicidade.
Ninguém sabe, mas uma coisa é certa: a resposta à pergunta do autor do
texto condena (ou valida) toda a experiência social com o nome de
"feminismo".
2 comentários:
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Estrela Porno Cytheria estuprada brutalmente por... Advinha por quem?
ResponderEliminarNarrativa do estupro de Cytheria provoca batalha Internet.
http://www.returnofkings.com/57034/why-are-feminists-ignoring-the-violent-gang-rape-of-porn-star-cytherea
1.As mulheres não se satisfazem com nada - por isso é que são facilmente enganadas com promessas vãs de sedutores travestidos de benfeitores.
ResponderEliminar2.Se fossem livres, as mulheres poderiam escolher que tipo de vida levar. Entretanto, com a invasão feminina do mercado de trabalho, os salários ficaram encolhidos e, agora, as mulheres acabam obrigadas a trabalharem fora de casa para ajudarem na economia doméstica.
3.Elas se irritam com a família em casa, mas são doces e dóceis com seus patrões e clientes, além de serem influenciadas pelos conselhos imbecis de amigas comprometidas com os próprios impulsos e vaidades - e tal mentalidade é levada aos lares por elas, acrescentando marretadas à demolição da instituição familiar com mais feminismo, hedonismo e egoísmo.
4.Para a mulher contemporânea, família é ela e seus parentes (filhos, pais, irmãos). Ela não sente nenhum laço de lealdade a seu marido. Nenhuma surpresa: os jovens (principalmente homens) não querem entrar nessa sociedade parasitária em que pouco têm a ganhar e muito têm a perder; não conseguem sócias de vida, mas gente disposta a usufruir sem desejar contribuir.
5.Não sei como as mulheres portuguesas pensam e agem, mas as brasileiras acham que aos homens compete apenas trabalhar e trazer dinheiro para casa (escravidão) enquanto eles estão desautorizados a interferir na educação e criação dos filhos (inclusive na disciplina), não podem opinar na administração do lar (que fica a cargo duma doida consumista e perdulária), e devem ficar à disposição das malucas para fiel cumprimento das ordens determinadas por suas esposas tirânicas (não conseguem ter um minuto de paz em casa - é uma forma de "compensação" pelas atividades domésticas feitas pelas esposas, que inventam e complicam rotinas apenas para não se verem e não se sentirem as únicas a trabalhar em casa, e não serem "escravizadas").
É o fim da civilização e da família. Filhos desorientados e sem respeito pela figura de autoridade (pai), ausência de uma presença amorosa (mãe), falta de monitoramento dos filhos para que cumpram seus deveres sem caírem nas mãos de más influências, etc.
Assim se destrói um país - de dentro para fora.