Por Paul e Phillip Collins
O 144º Congress of Correction, que foi levado a cabo entre 15 e 20 de Agosto, em Salt Lake City, apresentou um workshop em torno do Prison Rape Elimination Act
(PREA) e as suas ramificações para os presos que se identificam como
lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros e interssexuais (lgbti). O
consenso entre os presentes durante este workshop foi o de que os presos com estas orientações particulares se encontravam em risco acrescido de vitimização sexual.
Durante o workshop ninguém
levantou a possibilidade dos presos lgbti estarem eles mesmos a levar a
cabo esta vitimização. Esta omissão revelou a implícita parcialidade em
favor daqueles que abraçaram orientações sexuais inconvencionais.
Talvez esta omissão seja, de alguma forma, atribuível à perspectiva global daqueles que se reuniram para o workshop.
A oradora principal foi
Bernadette Brown, que, para além de ser uma Senior Program Specialist para o National Council on Crime and Delinquency, é uma lésbica assumida. Durante a apresentação, Brown corajosamente declarou, "O género é uma construção social".
Esta alegação radical, que depende duma alegada disjunção entre o sexo
e género, certamente que não é nova. Durante os últimos anos, ela tem
sido largamente popularizada por feministas politicamente e socialmente
activas. Reconhecendo as igualmente vantajosas implicações da dicotomia
sexo/género para o seu próprio movimento social, várias organizações em
torno dos direitos dos lgbti adoptaram-na também como análise racional
central para a sua plataforma.
Subjacente à alegação encontra-se a tácita promoção de que a androginia
é normativa. Por sua vez, a promoção da androginia pode ser rastreada
para trás no tempo até a mais pervasiva de todas as heresias:
Gnosticismo. O pseudepigráfico
Evangelho de Tomás exemplifica este ponto de vista normativo da
androginia. No Ditado 11, a revisão Gnóstica de Cristo retrata a
androginia como uma união salvadora:
Jesus disse-lhes: "Quando vocês fizerem dos dois, um, e quando fizerem do interior o mesmo que o exterior e o exterior como o interior, o superior como o inferior, e quando fizerem do macho e da fêmea um só, de modo a que o macho não seja macho e a fêmea não seja fêmea, quando fizerem olhos no lugar dum olho, a mão no lugar da mão, um pé no lugar dum pé, uma imagem no lugar duma imagem, então entrarão [no reino].”
Tal como todos os movimentos revolucionários que povoam a
modernidade, o feminismo ajusta-se àquilo que Eric Voegelin chamou de
religião política Gnóstica. O Gnosticismo ensinava que no princípio,
existia uma singularidade espiritual (a “Pleroma”) dentro da qual a
divindade funcionava como potência óptima. Esta unidade pura foi
dividida em pluralidade devido ao erro dum intermediário deificado
conhecido como Sofia
(“Sabedoria”).
Emanando do próprio ser da Sofia estava uma consciência defeituosa
que eventualmente assumiu a apelação Bíblica de YHWH, que os Gnósticos
blasfemamente caricaturaram de “Arconte da Arrogância.” Este misoteísmo
era atribuível à caracterização do estatuto ontológico do mal por parte
dos Gnósticos. Com o mal não mais atribuído à vontade, a corrupção foi
projectada para tudo o que era externo ao Gnóstico. Esta projecção
incluía o mundo externo, que invariavelmente se tornou no recipiente de
desprezo explícito ou implícito.
Visto que eles acreditavam que o mal possuía substância e forma, os
Gnósticos encontravam-se pré-dispostos em favor de algumas variações do
dualismo Docistista e Maniqueísta.
Esta diminuição da condição humana, que o Cristianismo Bíblico
identifica como a Queda dos pais da humanidade [Adão e Eva], foi
associada com o próprio acto da criação. Afinal de contas, se o mal
possuía forma e substância, só um Deus maligno iria associar a pureza
do espírito com a corrupção da matéria.
A exoneração de Deus implicava uma bifurcação arbitrária dos Seus
papéis como Criador e como Pai em duas divindades distintas. Deus Pai
era docetisticamente caracterizado como totalmente transmudano,
onticamente distante da ordem criada. Deus o Criador era caracterizado
como um guardião genuíno a presidir sobre a prisão cósmica do mundo
material. Portanto, os Gnósticos desprezavam o Deus Bíblico devido ao
Seu papel criatológico.
A esfera palpável era um horrível acidente, resultante da divisão pré-cósmica da Pleroma. Como fragmentos corrompidos
emanando da essência divina, os limites ontológicos do mundo material
eram vistos com uma atitude cosmológica docetistica. Através desta
lente interpretativa, o estatuto existencial da personificação
física era equivalente a uma prisão.
Esta é a base da visão normativa da androginia. Uma vez que a
possessão de órgãos sexuais é um traço definidor da personificação
física, o Gnosticismo expressou um desprezo tácito pelas categorias
genéticas de macho e fêmea. A partir deste pessimismo antropológico
nasceu um pessimismo cosmológico mais abrangente. A esfera
temporal-espacial foi considerada uma colónia penal governada pelos
agentes demoníacos do tempo e do espaço. A humanidade foi supostamente
empurrada para esta prisão cósmica através do acto da criação.
Preso pelas leis físicas da natureza e pela moralidade objectiva codificada como a Lei Mosaica, o pneuma (espirito) do homem deu por si separado do pneuma divino e em perpétuo estado de alienação. Este estado só poderia ser superado através duma acção baseada na gnosis (isto é, sabedoria directa, reveladora da unidade humana com o divino) A Gnosis era considerada superior à pistis (fé).
A concepção Gnóstica da unidade com Deus não pode ser confundida com
a concepção ortodoxa Cristã, que é ddestiladaem 2 Pedro 1:4. Nessa
passagem, Pedro declara que os Cristãos desfrutam da promessa de se
tornarem "participantes da natureza divina". O que Pedro estava a descrever era a theosis,
a transformação do todo o ser do Cristão que coloca a sua imagem à
Imagem do Cristo Ressurrecto. Em contradição,o Gnosticismo ensinava de
facto que o ser humano era parte e parcela de Deus. Como tal, o homem
era ontologicamente equivalente a Deus.
Portanto, a promessa de gnosis era a promessa da transfiguração do ser humano para um ser divino, ou apotheosis. No Grego original, o prefixo apo- transmite denotações espaciais tais como "longe", "fora" e "à parte". Este termos indicam uma distinção ou separação. E claro que theos significa “Deus”. Portanto, a apoteose significa uma transfiguração que ocorre totalmente à margem de Deus.
A salvação, segundo os Gnósticos, não era a redenção humana das garras
do pecado através do Senhor Jesus Cristo, mas a sua redenção da estupefacção do seu isolamento e da sua alienção dentro do cosmos material através da gnosis. O Gnosticismo divorciava o Criador do processo de salvação, opondo-se assim a soteriologia Teocêntria
do Cristianismo e colocando em seu lugar uma soteriologia antropocêntrica.
Durante o Iluminismo do século 18, o Gnosticismo religioso tornou-se
no Gnosticismo político. Da mesma forma que o Gnosticismo religioso
havia-se modificado para o Gnosticismo político, o seu enquadramento
político foi invertido. Enquanto que o Gnosticismo ancestral valorizava
a transcendência, o novo Gnosticismo valorizava a
imanência. Em contradição aos objectos de experiência transcendental,
os objectos de experiência imanente encontram-se dentro dos limites
empíricos do homem. Como tal, eles permeiam constantemente o universo
físico. A vontade, a consciência, e até o Divino, encontram-se
ontologicamente ancorados em agentes materiais. Desta forma, o
Gnosticismo imanentista sincroniza-se confortavelmente com o
materialismo moderno, o que é irónico à luz da sua antiga atitude
docetistica em relação à materialidade.
A codificação da antiga heresia Cristã do Gnosticismo para doutrina
revolucionária resultou na secularização da própria escatologia Cristã
que os pensadores do Iluminismo ridicularizavam. Para o Gnóstico
moderno, o eschaton (isto é,
o final dos tempos) habita na própria história. Esta escatologia
secular, que assumiu uma míriade de formas entre os modernos movimentos
revolucionários socialistas, ofereceu uma história do mundo redentora
que culminava com uma imanente Parusia facilitada pela mão humana.
Por exemplo, o Marxismo mantinha que o proletariado iria redimir o
mundo de milhares de anos de exploração de classe. Semelhantemente, o
Arianismo de Hitler prometia redimir o mundo duma alegada corrupção da
humanidade causada pelas assim-chamadas "raças inferiores". O feminismo
cultural, que ganhou proeminência nos últimos anos, busca redimir o
mundo de milhares de anos de alegado domínio masculino.
A variante Gnóstica que permeia a estrutura feminista é tornada
evidente pelas experiências em engenharia religiosa por parte do
movimento. Olhando para a religião através da mesma óptica pragmática
do luminar do Iluminismo August Comte,
as feministas tentam re-esculpir as confissões religiosas tradicionais
segundo contornos sociais e políticos expedientes. A teóloga Rosemary
Radford Ruether declara:
A teologia feminista não pode ser feita a partir da base existente da Bíblia Cristã (Ruether ix).
Qual é uma das fontes de inspiração mais importates da teologia feminista? A resposta é disponibilizada pela teóloga feminsita Chung Hyun Kyung, que declara candidamente: "As
feministas são livres para usar os antigos textos Gnósticos -
originalmente rejeitados como heréticos - visto que o cánone Cristão
foi criado por homens" e que "as mulheres não são obrigadas a aceitar um livro... cujo enquadramento não as levou em consideração” (citado em Jones 82).
[ed: Seria interessante saber quantas mulheres tomaram parte na construção dos assim-chamados "antigos textos Gnósticos"]
Segundo Voegelin, a moderna soteriologia antropocêntrica Gnóstica só
pode obter uma semelhança de sentido na ausência de Deus. Afinal de
contas, antes de se criar uma nova ordem é preciso suplantar o criador
da antiga ordem. Esta mudança cósmica de regime estipula o acto
revolucionário por excelência: decídio. Voegelin reitera:
De modo... a que a tentativa de criar uma nova ordem possa fazer sentido, a naturalidade da ordem do ser tem que se obliterada; a ordem do ser tem que ser interpretada como estando, essencialmente, sob o controle do homem. E assumir o controle do ser requer mais ainda que a origem transcendente do ser seja obliterada: ela requer a decapitação do ser - o assassinato de Deus. (35-36)
O assassinato de Deus é precisamente o que a feminista tem em mente. Naomi Goldenberg, feminista, declarou:
O movimento
feminista que se encontra presente na cultura Ocidental está envolvida
na lenta execução de Cristo e de JEHOVAH, mas muitos poucas mulheres e
poucos homens envolvidos na igualdade sexual dentro do Cristianismo e
do Judaísmo se apercebem da extensão da heresia. (Jones 195).
Fazendo uma sinopse do objectivo feminista do deicídio, Goldenberg declara
Nós mulheres iremos levar a cabo o fim de Deus (180).
Onde os antigos Gnósticos reinvidicavam uma gnosis
(isto é, sabedoria oculta) como o núcleo da sua soteriologia
antropocêntrica, as feministas reinvidicam uma iluminada e fabulosa [de
fábula] androginia. A ironia é que, embora a androginia ostensivamente
combine traços masculinos e femininos, a feminista trabalha activamente
para roubar da mulher a sua feminidade. Este roubo é efectuado através
da separação do sexo com o género. Tal como os Gnósticos olhavam para o
cosmos e para a sua ordem hierárquica como uma ilusão projectada por
parte dum demiurgo malévolo, a feminista caracteriza a masculinidade e feminidade de construções sintéticas impostas à humanidade por parte duma tirania patriarcal quimérica.
A bifucarção do sexo e do género depende da permanentemente debatida dicotomia
natureza e criação. Dentro do polarizador enquadramento da divisão
sexo/género, o sexo é caracterizado como produto da natureza ao mesmo
tempo que o género é classificado como consequência da criação. No
entanto, os desenvolvimentos levados a cabo na neurociência estão a
fazer da dicotomia natureza/criação algo insustentável. Darlene Francis
e Daniela Kaufer declaram:
O enigma “natureza vs. criação” foi revigorado quando os genes foram identificados como as unidades da hereditariedade, contendo informação que direcciona e influencia o desenvolvimento. Quando o genoma humano foi sequenciado em 2001, a esperança era a de que todas estas questões fossem respondidas. Na década que entretanto passou, tornou-se aparente que existiam mais perguntas do que aquelas que previamente se pensava.
Chegamos a um ponto onde a maior parte das pessoas é suficientemente experiente para saber que a resposta certa não é "natureza" versus "criação" mas sim uma combinação de ambas. No entanto, tanto os cientistas como leigos investem demasiado tempo e esforço em tentar quantificar a importância relativa da natureza e da criação.
Avanços recentes da neurociência disponibilizam um argumento convincente para finalmente se abandonar o debate "natureza vs criação" como forma da atenção se focar no entendimento dos mecanismos através dos quais os genes e o meio ambiente se encontram perpétuamente entrelaçados através da vida do individuo. (“Beyond Nature vs. Nurture”)
Uma vez que os avanços na neurociência estão a banir rapidamente a
dicotomia natureza/criação, é por demais óbvio que a divisão
sexo/género está a ser igualmente banida. Se a natureza e a criação não
estão dicotomiamente relacionadas, então também não o estão o sexo e o
género. Logo, o sexo e o género não podem ser colocados em polaridades
extremas num tipo de oposicionamento binário. Tal enquadramento binário
oposicional resulta em confusão terminológica relativa tanto às
disparidades gerais entre os dois sexos como também as nuances internas
que surgem dentro de cada um. No livro Gender,
Nature and Nurture, Richard Lippa chama a atenção para esta confusão terminológica:
Alguns pesquisadores alegaram que a palavra sexo deveria ser usada como referência para o estatuto biológico de se ser macho ou fêmea, ao mesmo tempo que a palavra género deveria ser usada como referência a todos os trajes definidos, aprendidos e construídos do sexo, tais como o estilo de cabelo, a vestimenta, os maneirismos não-verbais, e os interesses.
No entanto, não é de todo claro até que ponto as distinções entre os machos e as fêmeas se devem aos factores biológicos versus os factores sociais. Para além disso, o uso indiscriminado da palavra género tende a obscurecer a distinção entre os dois tipos de tópicos: (a) diferenças entre os machos e as fêmeas, e (2) as diferenças individuais na masculinidade e feminidade que ocorre dentro de cada sexo. (3-4)
Lippa ressalva que "o
próprio conceito do género é parcialmente definido através das
distinções entre os sexos - diferenças nas roupas, aliciamento [inglês: "grooming"], escolhas ocupacionais, estilo de comunicação, agressão, e comportamentos não verbais dos homens e das mulheres" (4).
Verdadeiramente, as diferenças definem o género. Estas diferenças
incluem as distinções biológicas. Colocando de lado toda a ginástica
semântica, sexo e género continuam a ser sinónimos. Esta sinonimidade
axiomática desafia qualquer disjunção que o revolucionário sexual possa
querer impor sobre esses termos.
A disjunção imposta ao género e ao sexo é uma disjunção arbitrária,
e foi feita para dar ao revolucionário sexual um conveniente grau de
elasticidade para a redefinição dos parâmetros da sanidade sexual. Se a
identidade sexual da pessoa pode ser divorciada da biologia, então até
as mais prejudiciais formas de relações sexuais podem ser justificadas.
A forma como esta realidade ofende as delicadas sensibilidades dos
politicamente correctos é irrelevante.
(Continua na 2ª Parte)
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