terça-feira, 1 de outubro de 2013

O aumento do número de mulheres nos cargos de liderança aumenta a produtividade?

O que dizer desta manchete provocativa do Daily Mail:
Mais mulheres em posições de liderança significa mais lucro: empresas cujos conselhos administrativos são compostos com pelo menos 1/3 de mulheres têm um aumento de 42% nos lucros.
Isto parece muito pouco provável, como tal eu verifiquei. A fonte para a estatística é um grupo com o nome Catalyst. Uma das missões do grupo é aumentar o número de mulheres na liderança das empresas. Obviamente que isto não significa que a estatística é falsa, mas levanta a questão do potencial viés.

Depois de ter olhado para outras pesquisas em torno deste assunto, apurei que os dados não estão de acordo com as alegações da  Catalyst. Por exemplo, houve uma pesquisa levada a cabo aquando da altura em que o governo Norueguês forçou as companhias a ter conselhos directivos administrativos por 40% de mulheres:
Amy Dittmar, professora-adjunta de finanças na "Ross School of Bussness" da "University of Michigan" analisou recentemente o impacto da decisão Norueguesa .... O estudo de Dittmar e de Ahern apurou que quando um conselho directivo duma empresa tem um aumento de 10% no número de mulheres, o valor da companhia caia. Quanto maior fosse a mudança na estrutura dos conselhos administrativos, maior era a queda consequente.
Uma fonte de informação alternativa ainda melhor em torno deste assunto é o artigo escrito por dois sociólogos da Universidade de Harvard sumariando as pesquisas até hoje. Segundo o seu estudo, a maior parte das pesquisas apuraram que acrescentar mulheres nos conselhos administrativos não melhora a performance da companhia:
Os analistas exploraram os efeitos da diversidade nos conselhos, tanto nos lucros como na valorização das acções. O padrão geral do que foi apurado através de dezenas de artigos que foram já publicados até hoje suportam a tese de que a diversidade sexual inibe a  performance (p.10).
Os sociólogos de Harvard reconheceram o facto da pesquisa da empresa Catalyst fazer uma ligação entre as mulheres que estão nos conselhos administrativos e  rentabilidade:
Muito provavelmente, o estudo mais publicitado que faz a conexão entre a diversidade e a rentabilidade é a comparação levada a cabo pela Catalyst junto de 500 empresas americanas de topo, durante o período compreendido entre 2001 e 2004.
No entanto, os sociólogos criticam esta pesquisa por não considerar a possibilidade da causalidade reversa. Dito de outro modo, será que colocar mulheres nos lugares de topo aumenta os lucros da empresa, ou será que o aumento dos lucros da empresa levam a que mais mulheres sejam colocadas nos lugares de topo?

Segundo os sociólogos de Harvard, os projectos de pesquisa que examinam o tópico da causalidade reversa apuram que 1) ou não há qualquer diferença na rentabilidade quando as mulheres são nomeadas para os conselhos directivos, 2) ou há um declínio nos lucros. Eis aqui alguns dos projectos de pesquisa que eles listam:
  • Zahra e Stanton descobriram que, no geral, não há qualquer tipo de efeito, mas revelam alguns efeitos negativos entre algumas empresas americanas de dimensões consideráveis durante os anos 80.

  • Os países escandinavos eram os líderes na promoção da diversidade sexual nos conselhos administrativos. Estudos recentes não revelaram qualquer tipo de efeito na diversidade sexual na performance nos mercados de acções junto de 443 empresas Dinamarquesas.

  • Smith, Smith, e Verner usam dados recolhidos junto de 2500 empresas Dinamarquesas para explorar explorar várias medidas de desempenho. Directoras externas causam efeitos negativos, mas directoras internas causam efeitos positivos.

  • No seu estudo de 2009, Adams e Ferreira usam dados recolhidos entre 1996 e 2003 junto de 1939 grandes empresas Americanas. A sua análise é provavelmente a mais sofisticada e a mais transparente publicada até aos dias de hoje. Embora eles tenham apurado que os conselhos com mais mulheres têm um desempenho superior nas empresas de monitorização, eles apuraram também efeitos negativos junto das mulheres pertencentes aos conselhos tanto do q de Tobin q como da ROA (retorno sobre activos). 

    De modo particular, eles apuraram efeitos positivos como consequência da diversidade sexual nos modelos OLS [Método dos mínimos quadrados ou MQO], mas duas técnicas distintas para lidar com a endogeneidade (efeitos fixos e efeitos fixos com variáveis instrumentais) produziram significativos efeitos negativos (para os lucros e para o valor no mercado das acções) e uma terceira técnica produziu efeitos negativos insignificantes nos dois resultados (pp.11-12)
A conclusão é a seguinte:
Levando tudo em conjunto, estes estudos são consistentes em demonstrar que empresas que estão a ser bem sucedidas são mais susceptíveis de contratar mulher para os lugares de liderança, mas que por sua vez esta liderança feminina tem efeitos neutrais ou negativos na  performance da empresa.
Vários estudos lidam com este ponto de modo mais directo. Farrell e Hersch examinam uma amostra de 300 empresas (presentes na lista Fortune-500) durante o período 1990-1999, revelando que as firmas com lucros fortes (ROA) são as mais susceptíveis de nomear mulheres para cargos de directoria, mas que a directoria feminina não tem qualquer tipo de efeito na performance subsequente. 
A Adams e Ferreira apurou que através do valor do q de Tobin, mas não do valor do ROA, dava para prever a susceptibilidade duma empresa nomear uma mulher para o cargo de directora, mas, como notado, as mulheres directoras geram efeitos negativos subsequentes. 
Eles concluem: "Embora uma relação positiva entre a diversidade sexual nos conselhos administrativos e a performance da empresa seja frequentemente citada na imprensa popular, isso não está manifesto em qualquer dos nossos métodos de examinação da endogeneidade da diversidade sexual  (p.12)."
Esta última frase é a forma académica de dizer "não acreditem em tudo o que lêem nos jornais em torno deste assunto". O problema é que a estatística da  Catalyst é bastante útil para forçar as empresas a adoptar quotas para mulheres nos cargos de liderança, e como tal, é bem provável que esta mesma estatística sejam lida com frequência daqui para a frente.


* * * * * * *
Aparentemente, as únicas empresas que se aventuram a nomear mulheres para cargos de liderança são, na sua maioria, empresas que já têm uma condição financeira estável. Ou seja, só aquelas que se podem dar ao luxo é que nomeiam mulheres para cargos de liderança.

Os estudos sérios levados a cabo por entidades competentes produzem uma imagem totalmente oposta àquela desejada pela Catalyst: não só a nomeação de mulheres para cargos de liderança não aumentam os lucros, como podem, sim, ter efeitos económicos negativos. Mas para quem tem uma agenda a seguir, isso é irrelevante; o que interessa é forçar as empresas a admitir pessoas com base na sua composição genética (XX) e não com base na sua capacidade, aptidão e conhecimento.

Via notificação por parte da editora do blogue "Tradicionalíssima".



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